terça-feira, junho 26, 2012

MEMORIA SOBRE A DESCOBERTA DAS ILHAS DE PORTO SANTO E MADEIRA

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
The Project Gutenberg EBook of Memoria sobre a descoberta das ilhas de
Porto Santo e Madeira 1418-1419, by Emiliano Augusto de Bettencourt

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Title: Memoria sobre a descoberta das ilhas de Porto Santo e Madeira 1418-1419
       (Fragmento de um livro inedito)

Author: Emiliano Augusto de Bettencourt

Release Date: March 9, 2010 [EBook #31576]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-1

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MEMORIA
SOBRE A DESCOBERTA
DAS
ILHAS DE PORTO SANTO E MADEIRA
1418—1419
(FRAGMENTO DE UM LIVRO INEDITO)
POR
E. A. Bettencourt



PORTO
Typographia do Commercio do Porto
RUA DA FERRARIA N.os 102 A 112

1875

MEMORIA SOBRE A DESCOBERTA
DAS
ILHAS DE PORTO SANTO E MADEIRA
1418—1419
(FRAGMENTO DE UM LIVRO INEDITO)

Quando o infante D. Henrique voltou de Africa foi residir em uma terra do Algarve, situada na ponta mais desgarrada da Europa, e que parece ter sido destinada pela natureza a servir de posto avançado á civilisação europeia. N'esta terra, cujo senhorio el-rei havia dado a D. Henrique, fundou elle uma villa, que se denominou do «Infante», e a qual devia servir para tracto e refresco dos mareantes que fossem ou viessem do levante.
Sagres, no cabo de S. Vicente, pois que foi este o lugar escolhido pelo infante para estabelecer a sua villa, era pelo occidente o terminus natural do mundo conhecido no comêço do seculo XV, em quanto que o cabo Não, da Africa, marcava no mar do sul o limite até onde haviam podido chegar os navegantes europeus.
O infante desejava ultrapassar estes limites, colhera em Ceuta algumas informações, e com essas vagas noticias principiou a mandar os seus criados a explorar os mares do sul.{4}
D. Henrique era o quarto filho de el-rei D. João I e grão-mestre da Ordem de Christo, dignidade que punha nas suas mãos a administração das enormes rendas da Ordem; possuia um genio emprehendedor e era perseverante e generoso: taes dotes juntos a tão grandes meios fizeram do infante o maior homem do começo dos tempos modernos, heroe cujas obras aproveitaram ao mundo inteiro.
Quando, pois, o infante dava principio á serie de viagens de exploração que determinára fazer á costa d'Africa, mandando todos os annos duas ou tres caravellas, commandadas por alguns dos seus mais zelosos criados, com o encargo de passarem o cabo Bojador, e irem o mais longe que podessem; succedeu que dous fidalgos de sua casa, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, que com o infante tambem se haviam achado no soccorro da praça de Ceuta, se lhe offereceram para irem passar o mencionado cabo e descobrirem a terra da Guiné.
Sairam portanto mar fóra estes arrojados fidalgos, em uma pequena embarcação, que o infante lhes fez aprestar e prover de todo o necessario; mas decorridas que foram algumas milhas encontraram ventos de travessia, que os arrojou para o alto mar onde correram por muito tempo á mercê de uma forte tempestade, até que se acharam sobre as costas de uma terra desconhecida.
Zarco e Tristão sairam em terra para se abrigarem da tormenta, dando, por tal motivo, á ilha desconhecida a denominação de Porto Santo.
Tendo Zarco e Tristão reconhecido a ilha, voltaram apressados a dar parte ao infante, que largamente os galardoou e lhes permittiu que fossem povoar a nova terra com muitas pessoas que para isso logo se offereceram; indo tambem n'essa occasião, por capitão donatario da ilha, Bartholomeu Perestrello, fidalgo da casa do infante D. João.
Chegados que foram á ilha de Porto Santo construiram suas barracas e se acommodaram o melhor que puderam. Tinha, porém, acontecido que, entre os animaes que Perestrello{5} levou para a ilha havia uma coelha prenhe, que acertando de parir durante a viagem foi lançada em terra com a sua prole. Estes coelhos, segundo asseveram quasi todos os escriptores que escreveram d'aquellas ilhas, foram qual praga do Egypto, porque multiplicaram muito e devastaram quasi todas as plantações que os colonos haviam feito. Bartholomeu Perestrello desgostoso por este successo, ou talvez por não poder habituar-se a viver isolado na ilha, embarcou-se para o reino, emquanto que Zarco e Tristão foram em barcos construidos em Porto Santo examinar se era alguma nova terra o traço negro que um certo nevoeiro projectava constantemente no horisonte.
Singraram, portanto, na direcção d'aquella sombra informe e fumosa, e ao passo que d'ella se approximavam, assim se lhes foram patenteando as serras e os córtes abruptos de uma terra virgem, fragosa e coberta de uma espessa matta.
Zarco e Tristão descobriram assim a ilha da Madeira, e, depois de a reconhecerem, tendo desembarcado em diversas angras e penetrado no interior, voltaram a dar parte ao infante, que os premiou com as capitanias das duas partes em que determinou dividir a ilha.
Azurara, Barros, Damião de Goes e ainda outros mais[1] dizem positivamente que Tristão e Teixeira se dirigiam á Guiné ou a passar o cabo Bojador, e que foi uma tormenta que os levou á ilha de Porto Santo; sem admittirem que taes navegantes fossem em busca de uma ilha, cuja noticia viera de um captivo de Marrocos, como teem escripto alguns auctores, que acreditam na lenda de Machico.
Falta, portanto, nos primeiros escriptores d'este acontecimento, base em que se funde a ligação da descoberta da Madeira por Zarco e Tristão com a lenda de Machico, que Antonio Galvão e Francisco Manoel de Mello referem no «Tractado{6} dos descobrimentos antigos e modernos» e nas «Epanaphoras de varia historia».
Na obra «The life of Prince Henry of Portugal», defende o snr. Major a veracidade da lenda de Machico, e tanto calor toma n'esta defeza que bem mostra quanto se deixára convencer da existencia d'aquelle acontecimento. É tal a sua convicção que chega a persuadir-se de ter descortinado na romantica «Epanaphora amorosa» de Mello os principaes traços de uma verdadeira noção historica; julgando-a comprovada com o escripto de Valentim Fernandes, encontrado em Munich, aliás muito divergente em pontos essenciaes da mesma lenda.
O snr. Major dá-nos pela seguinte fórma o extracto da lenda, que elle diz ser conforme se acha narrada pelo possuidor da «Relação original manuscripta»:
«No reinado de Duarte III, um mancebo de boa familia chamado Roberto Machin, teve a infelicidade de se enamorar de uma joven dama cujos paes, possuindo bens e jerarchia muito superiores aos d'elle, trataram com desprezo as suas pretenções. Querendo evitar suas repetidas visitas, alcançaram do rei ordem de prisão para Roberto, a fim de n'este meio tempo unirem sua filha a um fidalgo cuja posição mais convinha para manter a dignidade da sua familia.
«Como a dama, de nome Anna d'Arfet ou Dorset, correspondesse aos affectos de Machin, o mesmo foi sair elle da prisão que determinar-se a raptal-a. Com a ajuda de um amigo que procurou introduzir-se como palafreneiro em casa de Anna, que era em Bristol, foi a final executado este plano, e d'alli partiram em uma embarcação que Machin já para este fim tinha preparado e equipado.
«A sua intenção era navegar para França; eis que sobrevindo-lhes um vento nordeste os apartou d'aquella costa, e depois de andarem treze dias á mercê de um temporal deram vista de uma ilha onde desembarcaram. Acharam-na despovoada, mas bem provida de madeira e agua, e de excellentes condições para se habitar.{7}
«Gosaram tres dias de tranquilla segurança, e em quanto uns exploraram o interior do paiz, os outros examinaram de bordo as suas margens; mas na terceira noute levantando-se uma tempestade deu com elles na Costa d'Africa. O susto e o soffrimento por que passára a infeliz dama haviam n'este desastre attingido as maiores proporções, e passados tres dias de completa prostração mental terminou seus dias. Foi sepultada ao pé do altar que se erigiu em signal de reconhecimento pela sua chegada, e, no quinto dia depois do seu fallecimento, Machin foi tambem encontrado morto sobre a sepultura da sua amante. Os restantes companheiros lhe abriram egual sepulchro e embarcaram-se depois no batel do navio, e, ao chegarem á Costa d'Africa foram levados á presença do rei de Marrocos, de quem ficaram captivos.
«Nas mesmas tristes circumstancias acharam seus companheiros que perdidos foram no navio levados da ilha.
«Entre os seus companheiros de captiveiro havia um João de Morales, natural de Sevilha, bom maritimo e experimentado piloto a quem fizeram a descripção da terra que tinham descoberto. Por este tempo a 5 de março de 1416 fallecera D. Sancho, filho mais velho do rei Fernando de Aragão, e deixára em testamento um rico legado para que de Marrocos fossem resgatados os christãos captivos, e entre elles havia este João de Morales, mas o navio que o trazia foi capturado pelo navegante portuguez João Gonçalves Zarco.
«Comtudo este, por clemencia, deu a liberdade aos infelizes captivos reservando só para si a Morales, cuja experiencia em materia nautica julgou poder ser util a seu amo o infante D. Henrique. Este Zarco tinha ido, como já nos disse Barros, em companhia de Tristão Vaz Teixeira, explorar a costa occidental d'Africa, e assaltados por uma tempestade foram dar na ilha de Porto Santo. Isto parece ter succedido no fim de 1418 ou principio de 1419. Foi Morales que lhe communicou o descobrimento de Machin, e partindo em um navio, com authorisação do infante e sob a direcção de Morales, fez{8} o importante descobrimento da ilha da Madeira, á metade da qual deu o nome de Funchal e á outra de Machico.»
Habituados, como estamos, a respeitar a opinião do illustre sabio britannico, não podiamos deixar de nos sentirmos profundamente magoados por uma pungente contrariedade, quando se nos deparou a defeza de Machico, tão habilmente desempenhada por aquelle escriptor.
Desejaramos partilhar sempre a sua opinião, seguil-a e cital-a até para credito nosso; mas para isso era-nos mister tornarmo-nos adulador, e nós, como portuguez, devemos ao snr. Major a consideração que deriva de um sentimento bem mais digno que o da adulação.
Por amor, pois, da verdade e com o mais profundo respeito nós vamos, segundo a nossa opinião, defender como primordial a descoberta das ilhas de Porto Santo e Madeira por Zarco e Tristão, com prejuizo da pretendida descoberta de Machico.
Principiando, pois, por mostrar a importancia que a «Epanaphora» de Mello póde ter como documento historico, comparal-a-hemos com o escripto da collecção de Fernandes, e com o de Antonio Galvão, citados pelo snr. Major, concluindo por emittir a nossa humilde opinião sobre o pretendido caso.
A lenda, contada pelo ameno auctor das «Epanaphoras», não nos consta que tenha sido relatada por nenhum escriptor do seculo XV; Azurara nada diz a tal respeito, e crêmos que se a tivesse por verdadeira teria feito d'ella menção na sua «Chronica de Guiné», conforme fez das descobertas de outros estrangeiros. O manuscripto de Francisco Alcafurado, que serviu a Francisco Manuel de Mello para compor a sua terceira «Epanaphora», e que diz ter vindo á sua mão por um extraordinario caminho, não apparece hoje em parte alguma, nem sabemos que algum outro escriptor tenha d'elle ou de seu auctor dado noticia. Em presença, pois, da chronica de Azurara, ha toda a razão para duvidar da authenticidade de um manuscripto que ninguem mais viu, pois que, tendo Azurara fallado{9} com quasi todos os descobridores, e consultado todos os escriptos para compôr a sua «Chronica»[2], parece-nos pouco verosimil ter-lhe escapado este escripto, e tambem o seu auctor, que se diz companheiro dos descobridores da Madeira, e que, segundo diz o auctor das «Epanaphoras», devia viver no paço do infante D. Henrique, ao tempo em que lá se achava tambem Azurara.[3]
É para notar que sendo a «Chronica de Guiné» escripta sob os auspicios do infante D. Henrique, e tendo sido o manuscripto de Alcafurado, segundo diz ainda o auctor das «Epanaphoras», offerecido ao mesmo infante, elle não fizesse narrar na chronica um acontecimento que, a ter sido verdadeiro, tambem deveria ser conhecido de todos os tripulantes das embarcações de Zarco, e portanto impossivel de conservar-se em segredo. O caracter probo e verdadeiro de Azurara não nos permitte suppôr que elle calasse a mais vedadeira relação do acontecimento, expondo-se aos retoques e emendas de tantas testemunhas oculares.{10}
Estas circumstancias e o facto de se não achar, em nenhum auctor coévo, noticia de Alcafurado concorrem poderosamente para augmentar, senão confirmar, as suspeitas que de ha muito nutrimos sobre a não existencia de tal escripto e de seu preconisado auctor.
Mas, ainda que ponhamos de parte esta ideia, a «Epanaphora» de Mello, já pela sua natureza evidentemente romantica, já por ser perto de dous seculos e meio posterior ao descobrimento da Madeira, e talvez tres á epocha em que se pretende dar por succedido o caso de Machico, está muilo longe de poder ter a honra de ser comparada com a chronica de Azurara, ou com as Decadas de Barros; e muito menos de poder servir para decidir o caso.
Quanto a Valentim Fernandes é preciso saber-se que o seu livro não passa de um aggregado de varias noticias, escriptas por diversos individuos, onde a par da lenda de Machico figura uma «Chronica», tambem manuscripta, «da descoberta e conquista de Guiné» por Azurara, escriptos estes que, quanto ao nosso ponto, se contradizem mutuamente.
Esta «Chronica da descoberta e conquista de Guiné» tem differente divisão e numeração de capitulos d'aquella que foi publicada pelo illustre visconde de Santarem, e crêmos que será a primeira chronica d'aquelle descobrimento, que desappareceu do reino logo depois do seu auctor a ter escripto.
D'esta reunião de noticias varias e contradictorias concluimos nós que Fernandes, sem criterio, nem ideia de legar á posteridade a lenda de Machico ou a chronica de Azurara, reuniu no seu livro tudo quanto podesse avolumal-o ou augmentar-lhe o valor, quer fosse absurdo quer não.
Este livro foi, portanto, colligido como objecto de mera especulação.
Ora, como não seja em um livro de especulação e de noticias contradictorias que se devam procurar elementos para decidir uma questão de facto, é bom que esta circumstancia não seja esquecida, tanto para que a lenda não ganhe com{11} a nomeada do collector, como para que a chronica de Azurara não perca, por se julgar que ella fôra alli collocada a proposito de contradictoria.
Para que o leitor podesse fazer ideia das contradicções dos tres principaes propagadores da lenda de Machico, Mello, Galvão e Fernandes, era-lhe mister ter conhecimento integral da lenda escripta por Valentim Fernandes; mas o snr. Major limita-se a indicar, no capitulo V do seu livro, algumas divergencias que encontrou nos escriptos d'aquelles auctores, deixando o leitor sem os meios de poder formar, sobre o caso, uma opinião fundada.
Nós, porém, tendo pela experiencia conhecido quanto importa consultar um escripto, em que se pretende basear a veracidade de uma allegação, vamos pela primeira vez dar á estampa a integra da referida lenda, que nos foi permittido tirar de uma cópia authentica do livro de Valentim Fernandes, feita em 1848, e existente na bibliotheca particular de sua magestade el-rei de Portugal.
Segue a cópia:
«Ylha de madeyra como foy prymeiramente achada e por quem E de que maneyra foy povorada.
«Huum cavalleyro de ingraterra que avia nome machyn que foy degradado por seu delicto de ingra terra. E determinou de se hir para espanha. E comprou huma bartscha que he navio de 40 tonees com gavia E meteo toda sua fazenda dentro do navio, com uma sua manceba e alguuns criados, e assi meteo cabras paraseu comer, foy seu camynho. E em vyndo atraves das berlengas deu tal tempo nelle que ho fez correr a balravento e foy dar comsigo aa ilha do porto sancto. E se espantarom quando virom terra, arribaram a ella e decerom em terra abuscar agoa e lenha que aviam mester E assy as cabras e bodes que lhes ficavam por serem magros e mortos de fame os lançaram a pacer. E esta terra era a ylha do porto sancto agora assi chamada.
«E elles assy estando esclarecendo o tempo virom mais{12} terra ao mar e fizerom vela e foram ver que terra era, e arribarom a huum porto onde agora chamam Matschiquo. E pos nome ao dito porto machyn E despois os castellanos corromperom ho vocablo e chamaromno malchico.
«Ao dito cavalleyro yngres pareçeo bem o porto e a terra deçeo nella E mandou levar huum triquete vela para huma tenda e machados e fouces e barijs e todo o que avia mester para comer e repousar em terra, ho qual mandou armar a sua tenda sobre a borda da rybeyra, a qual era muy graciosa e desafogadiço de muytos peixes e muytas aves mansas atee as tomarem com as mãos.
«Despois de repousados determinou em sy se avia algumas povorações na terra. E tomando alguuns mantijmentos e dous homens comsigo se foy pella ribeyra açima aos picos. E andou de pico a pico oulhando se viria alguma povoraçam ou synal de gente. E andou la tres dias sem achar nada, mas antes achou a terra cada vez mais aspera e fragosa d'arvoredos grandes que pareciam chegar ao çeo emtam determinou de tornar para sua tenda e gente.
«Em vijndo o dito cavalleyro com seos dous homens por huma ladeyra para baixo aonde já pareceo ho porto. E os criados nom vendo o navio no porto disserom ao Senhor que lhes parecia mal e que entendiam que eram fugidos os marinheyros com o navio. E elle esforçandoos como bõo cavalleyro dizendo que elles nom fariam tal ruyndade, mas antes stariam tras alguma ponta, porque lhes poderia ventar alguun vento em quanto elles andariam fora, ou cortar alguma marra e caçariam. E os criados confrangendose muyto e agastandose enfraquecendo das pernas que nom podiam andar. E elle os esforçou e disse, filhos porque pasmais, e tevestes coraçam por tammanha tormenta que janda temos passados, e se nos perderemos por esse mar buscaramos remedio para nos salvar como fazem os outros, quanto mais que estamos em terra muyto boa e muyto graciosa e ayrosa de muyto peixe, e muytos pombos mansos, rolas codornizes, agoas muyto especiaes{13} em maneyra que sempre nos poderiamos remediar. E que sabemos, se deos por ventura nos quis escapar das tormentas para povorarmos esta terra e lhe fazermos n'ella alguum serviço.
«Leixemos o cavalleyro de como se vinha esforçando seos criados e digamos dos marinheyros e de seu navjo. Ho mestre e marinheyros, como viram partir seu senhor para as serras, mostrando que aviam medo delle que querria povorar aquella terra com elles e os ter alli. Mas a verdade era que por cobijça das riquezas que tinham na nau determinaram a fugir. E requererom a manceba que ficava em a tenda e assi huum moço pequeno com ella se querriam hir com elles, que elles determinavam de fugir. E ella disse que nom que nunca deos quisesse que ouvesse de leixar seu senhor. Emtam partiram o mestre com seus marinheyros e fizeram vela.
«Aconteceu que hindo elles assi pello mar deu tempo nelles que foram ter acosta de berbaria e perderomse em huuns baixos. E escaparem delles para terra os quaes os mouros cativarom e os outros morrerom.
«Leixemos cativos o mestre com alguuns marinheyros e tornemos ao cavalleyro que ficava na ilha.
«Quando este cavalleyro yngres chegou onde tinha sua tenda armada que achou a manceba e o paje, e de como eram fugidos os marinheyros pesoulhe muyto nomno dando entender aa sua companhia, mas amtes os esforçava e fazia que não dava nada por ysso dando-lhes muytas razões e esforços e assy das bondades da terra como mantijmentos que nella tinham. E lhes dezia que bem podia nosso Senhor por alli trazer outros navjos por acertamento que os levassem aa terra dos christãos. E quando nom, que elle sperava com ajuda de nosso senhor ordenar e engenhar huum navjo ou batel que os levasse por esse mar onde fosse mais seu serviço. Sem embargo de todollos esforços nom prestou aamora da mançeba porque de pasmo morreo. A qual foy a primeyra que enterrarom{14} nesta terra em huma jrmida que elle tinha feito aa qual posnomem sancta cruz.
«A mançeba enterrada entremeteose com seos criados a cortar huum pao grosso e grande de que fizerom huum batel com algumas ajudas de paos cavados com tornos de pao. E assi calafetavam com limas de pedras. E estiverom nysso seys meses em aquella terra. Entam matarom muyto peixe e secaramno, e muytas aves que escalarom e secarom. E assi tomarom corchos e dragoeyros e encheromnos dagoa E com aquelle peixe seco e aves, e assi com os barijs que ajnda tinham, e com o traquete da tenda fizerom vela e partirom por esse mar e forom dar comsigo em barbaria em aquella terra onde se perdera seu navio com outros seus criados, e alli sayrom em terra, e logo os cativarom os mouros. E elles andando assi vio os outros do seu navio que eram cativos e arremeteo a elles para os matar. Quando os mouros aquello virom apartaromnos e perguntaromlhe a causa da sua peleja, pello qual estavom espantados por elles serem todos christãos, ho qual lhes foy todo contado. E logo o alcayde dy ho escreveo a elrey de fez seu senhor todo ho passado, assi das ilhas que acharom como da causa acontecida deste cavalleyro yngres. E logo por elrey de fez foy mandado de o levar amte sy. E elle ho contou todo por seu trusymam do que lhe fora acontecido.
«E elrey de fez veendo que se nom podia aproveitar de taes ylhas e terras mandou o cavalleyro a elrei dom Ioham de castella, com o qual elle entam tinha bõas pazes e amizades, ho qual despois de sabido de todo acontecido. Assy por ocupações como por guerra que tinha naquelle tempo com elrey de portugal, em maneyra que passouho feyto assy em delonga, que morreo o cavalleyro yngres e nom ouve que mais sobre ysso acudisse. E nom embargante o gaado que ficou na ilha de porto sancto como já dissemos multipricou em tanta quantidade que a ilha era toda chea.
«Os castellanos em conquistando as canarias vierom ter a esta ylha do porto sancto com tempo e acharom nella as cabras{15} de que fezerom carnaje e assi tomarom agoa e sangue de dragam que tyram das arvores dragoeyras. E dy avante quando hyam sobre os canareos sempre vinham aa dita ilha fazer carnajem.
«Dalli poucos annos andando Ioham gonclz zarco darmada em huma barcha contra os castellanos veo ter ao cabo de sam vicente sem aver tomado algumas dias nenhuma preza nem sabendo por onde hyriom fazer preza. Emtam disse huum castellão que com elle andava. Senhor se quizeres tomar boa preza vamos onde vos eu disser que he a ylha de Porto Sancto, onde os conquistadores de Canaria vão fazer sua carnajem e tomar sua agoa, por quanto como elles alli som saemse todos em terra e tomalloemos os navios e despois cativaremos a elles em terra.
«E posto que ouvesse grande differença nelles no navjo todavia forom la. E quando chegarom o porto sancto, avia ja tres dias que os castellanos eram partidos, e acharom as fogueyras feitas em terra e assi as tripas da carnajem e alguum gado morto. E fizeram tambem sua carnajem e tomarom agoa e lenha e folgarom alguuns dias e olharom a terra muy bem. E determinou logo o capitam de viir povorar a dita terra querendo ho Iffante dom anrrique seu senhor. E logo ho foy a buscar ao cabo de sam vicente onde estava o Iffante em sagres e lhe contou tudo que vira e os desejos que tinha de povorar aquella terra com sua ajuda, com ho qual o Iffante foy muyto ledo e contente. E escreveu logo a elrey seu padre que estava em santarem pedindolhe de merçee as ditas ilhas para as povorar E elrey lhes outorgou.»
Da comparação, pois, d'esta narrativa com as de Mello e Galvão resultam divergencias essenciaes, das quaes vamos notar as mais flagrantes.
A narração de Fernandes differe logo ao principio da dos outros auctores, declarando que Machico saira de Inglaterra degredado por seu delicto e não fugido com uma dama nobre.
A dama que em Mello e Galvão é parte importante, no{16} escripto de Fernandes é objecto tão secundario que, em vez de uma senhora nobre, e muito principalmente mais nobre que Machico, poderia ser uma manceba trivial, que, como diz a lenda, por cousa alguma deixaria seu senhor.
Pois uma dama ingleza nobre, chamaria nunca seu senhor a um individuo de estirpe menos elevada?
Mello e Galvão dizem que Machico fôra directamente á Madeira, em quanto que Fernandes o conduz primeiro a Porto Santo; e, quanto aos carneiros que Fernandes diz terem ficado n'esta ilha a pascer, se elles não fossem tambem legendarios teriam multiplicado tanto, que a sua natural voracidade não deixaria em que os coelhos, levados mais tarde á mesma ilha por Perestrello, podessem exercer a devastação que referem quasi todos os historiadores d'aquellas ilhas, até ao proprio snr. Major.
Fernandes não deu cabo do seu Machico na ilha da Madeira. N'este ponto Galvão e Fernandes estão de accordo, mas em contraposição com Mello que, para crear a entidade Morales, fez morrer Machico na Madeira, 5 dias depois da morte de Anna de Arfet. Ainda assim Fernandes diz «e com o traquete da tenda fizeram vela e partiram»; e Galvão diz «foi dar á Costa d'Africa sem velas nem remos.»
E é com taes escriptos que se pretende destruir as concordes asserções de Azurara e de Barros, o primeiro escriptor coevo do descobrimento da Madeira e ambos de uma seriedade e authoridade reconhecida pelos principaes escriptores modernos; e com relação ao primeiro dos quaes, o visconde de Santarem, por mais de uma vez, dá publico e honroso testemunho na introducção e notas da «Chronica da Descoberta e Conquista de Guiné».
Como poderá restabelecer-se a verdade de tal noção historica sobre documentos tão controversos?
Quanto a nós, parece-nos que bem devêra ficar, a parte mais notavel da lenda, como diz o snr. Major no seu capitulo V, considerada como mytho e o addicionamento como invenção,{17} se o mesmo senhor nos não tivesse dado como, sendo um e o mesmo documento, aquelle que Mello diz ter-lhe vindo á mão por um extraordinario caminho, e o escripto da familia de Zarco, a que Barros tinha alludido um seculo antes. Mas quem pôde assegurar ao snr. Major que estes dous documentos fossem um e o mesmo escripto, se ninguem até hoje os comparou por não terem sido encontrados em parte alguma?
O snr. Major notando, no capitulo V da sua já mencionada obra, ter predominado em perto de tres seculos, a opinião de haverem sido as ilhas da Madeira e Porto Santo descobertas em 1418 e 1420; attribue a Barros o erro d'essa supposição, dizendo que este escriptor excedera a authoridade do chronista Azurara, de quem confessa ter tirado o processo do descobrimento.
Mas isto não é assim, perdoe-nos o snr. Major: ha aqui um equivoco. O processo do descobrimento que Barros diz ter tirado de Azurara é o da Guiné e não o da Madeira; mas além d'isto, tanto para uma como para outra relação, do que Barros se serviu foi dos manuscriptos de Azurara e de Affonso de Cerveira[4], e não da chronica propriamente dita, porque essa ao tempo já tinha desapparecido do reino[5]. É, portanto, infundada a accusação de que Barros excedera a authoridade de Azurara.{18}
Não sabemos como é que o snr. Major, dizendo ter em seu poder os meios de restabelecer a verdade da noção historica de Machico, e julgando-a comprovada pela relação de Valentim Fernandes, nos diz no seu livro uma quarta e nova versão da mesma lenda, á qual chama extracto da que foi narrada pelo possuidor da relação original manuscripta. O snr. Major dando-nos esta quarta versão, não nos diz de quem ella seja, quem a viu, nem onde existe. Seja, porém, de quem fôr, nós entendemos que as notaveis divergencias de todas ellas são por si só o bastante argumento contra o objecto da lenda.
Seguindo a narração do snr. Major encontramos que, entre os christãos resgatados do captiveiro de Marrocos, com o legado que o infante D. Sancho de Aragão deixou em 1416, viera um hespanhol João de Morales que, sendo capturado pelo navegante portuguez João Gonçalves Zarco, communicára a este a descoberta de Machico.
N'esta parte a relação de Fernandes, como o leitor já deve ter observado, é muito differente, mas não menos inverosimil.
Foi preciso, ao auctor da relação original manuscripta, forjar esta captura para justificar o facto de ter sido o descobrimento da Madeira feito por portuguezes, porque, aliás, elle deveria ter sido emprehendido pelos compatriotas de Morales. Comtudo esqueceu ao auctor a falta de motivo plausivel para que os portuguezes podessem n'aquella epocha, sem quebra de tractados, capturar um navio hespanhol, de Castella ou Aragão, e fazer presa da sua tripulação; pois que com Aragão estava Portugal em paz, e comquanto não houvesse um tractado devidamente assentado com Castella, havia comtudo treguas juradas desde 1411, que duraram até depois da descoberta da Madeira (1420), e as quaes foram convertidas em tractado de amisade logo que el-rei de Castella completou 14 annos.
De todos os reis da peninsula hispanica, só o mouro de Granada deixou de obter de el-rei D. João I resposta satisfactoria quando, constando-lhes os grandes armamentos que antes{19} de 1415 se fizeram em Portugal sem que elles soubessem para que, vieram pedir ratificação dos tractados de paz. Por essa occasião ficámos nós devendo a um honrado hespanhol que era corregedor de Carçola, um elogio proferido por esta authoridade, no conselho que a regente de Castella, a proposito, entendeu mandar reunir em Palencia, elogio que La Clede relata pela seguinte fórma:
«Que razão ha para consternar-nos com as preparações dos portuguezes? Porque quereis obrigar-nos a romper a paz só por meras suspeitas? Este procedimento seria a maior vergonha para o nosso monarcha. Se este principe verdadeiro, grande e magnanimo jurou solemnemente a paz comnosco, se nos offereceu soccorro contra os mouros, se se offereceu a vir em pessoa capitanear os nossos exercitos, que razão ha para irmos hoje, sem maior fundamento, tomar armas contra elle? Não poderão os portuguezes fazer movimento que não seja para nos offender? Estão porventura obrigados a descobrir-nos seus segredos? E quem é que os descobre, maiormente quando os segredos envolvem alguma empreza grande? Sem razão, pois, nos consternamos, e maior injustiça é querer intentar contra elles, só porque nos occultam seus designios. Quando os formassem contra nós, bem podeis estar certos, eu os conheço muito bem, não deixariam de nos advertir, como generosos e sinceros que são. O condestavel D. Nuno Alvares Pereira, que trata com el-rei, seu senhor, em apromptar o armamento que hoje é nosso terror, e objecto d'este conselho, quando quiz entrar com a mão alçada em nossas terras, primeiro mandou aviso aos nossos capitães, que estavam na fronteira. Se elle em tempo de guerra declarada obrou com tanta generosidade, quando o odio e o interesse requeriam, e até tornavam necessario darem de subito contra nós, porque razão seria elle menos generoso hoje que as duas nações vivem em paz entre si, e el-rei de Portugal dá todas as mostras de querer mais do que nunca conservar comnosco estreita amisade?..»
Não é preciso mais!{20}
Para que hoje possamos fazer ideia do conceito em que então era tido em Hespanha o genio cavalleiroso dos portuguezes basta o que fica transcripto sob a authoridade de La Clede.
Por muito pouco que então se respeitassem os tractados entre os reis da peninsula, não é crivel que os christãos, resgatados ao captiveiro dos infieis de uma nação inimiga, corressem o risco de virem a ficar captivos dos christãos de uma nação amiga.
Em taes condições parece-nos, pois, evidente que a captura de Morales era um impossivel.
O nome de Machico dado a uma localidade da ilha da Madeira tambem, a nosso ver, não póde servir de argumento em favor da estada de inglezes n'aquella ilha, antes de lá terem chegado os portugueses. Notaremos em primeiro logar, sem comtudo querermos fazer d'esta a principal impugnação, que o nome de Machico tanto póde ser corrupção de Machin como diminutivo de macho. A indole vulgar do idioma portuguez não se oppõe a esta supposição. Azurara auxilia-a quando na sua chronica lhe chama Machito[6], e o proprio Mello quando o nomeia Machino[7].
Pois assim como na Africa se ficou denominando «Angra de Cavallos», ao ponto onde em 1435 os descobridores lançaram dois cavallos[8], para n'elles irem explorar o interior do paiz; não poderia tambem o nome de Machico, machito, ou machino ter sido dado áquella localidade da Madeira por um igual motivo?{21}
Concluindo, diremos que se alguma das lendas fosse de data anterior á da descoberta por Zarco e Tristão, poderia então colher o argumento do snr. Major, que diz terem estes (os portuguezes) reconhecido que Machico os precedera, pondo o seu nome a uma das localidades da ilha; porém, sendo a mais antiga de todas as lendas quasi um seculo posterior á descoberta da Madeira por Zarco e Tristão, o que d'aqui clara e unicamente se póde concluir é que a lenda fôra inventada ad hoc, depois de ter sido posto áquella localidade o nome de Machico; e é por isso que todas ellas concordam, mas unicamente, no nome e local de Machico.
O contrario d'isto é que será preciso provar, para se assentar que tivessem sido inglezes e não portuguezes os primeiros descobridores da ilha da Madeira.
Ha ainda um ponto que é preciso não deixar em vigor.
Como poderá entender-se que, se as ilhas de Porto Santo e Madeira tivessem sido descobertas entre os annos de 1317 e 1351, como diz o snr. Major, e sendo esse descobrimento tambem portuguez; como poderá entender-se, dizemos, que de tal descobrimento nos não ficasse noção alguma, escripta ou tradiccional; indo, pelo contrario, as indicações d'essas ilhas parar só ás cartas estrangeiras?
O alvoroço que causou em Portugal a noticia da descoberta d'essas terras em 1419, por Zarco e Tristão, e o afan com que muitas pessoas de todas as classes correram logo a povoar as novas ilhas, protestam bem alto contra a supposição de já terem sido estas mesmas terras descobertas por portuguezes ou estrangeiros ao serviço de Portugal.
Nós entendemos que as indicações de terras e ilhas oceanicas, bem ou mal lançadas em cartas de epochas anteriores ao descobrimento d'essas terras, não passam de addicionamentos feitos posteriormente, sem intenção de prejudicar a gloria de seus verdadeiros descobridores, e tão sómente com o fim de augmentarem os conhecimentos geographicos, com a{22} indicação das terras que se descobriram depois da construcção das referidas cartas.
Todas as pessoas que estiverem acostumadas a lidar com cartas geographicas, sabem muito bem que estes addicionamentos são tão communs, que ainda hoje se praticam, sem ideia de falsificação; que no XV seculo, epocha das principaes descobertas, carta alguma poderia andar em dia com o rapido progresso d'estes feitos, e que por consequencia estes addicionamentos eram então uma necessidade tanto mais instante na occasião, quanto mais prejudicial para a historia; porque, sendo todas essas cartas manuscriptas, podiam n'ellas admittir-se muitas inserções nos espaços claros, sem deixarem vestigios de terem sido retocadas ou accrescentadas.
Os nomes, com que se designam na carta catalan de 1351, citada pelo snr. Major, as differentes ilhas do grupo da Madeira, são a mais evidente prova de não terem taes ilhas sido incluidas n'aquella carta antes de 1420, pois que, sendo opinião geral, tambem partilhada pelo snr. Major, que as ilhas da Madeira foram povoadas depois da descoberta de Zarco (1420), claro está que a denominação de Deserta, dada na referida carta a uma das ilhas, só poderia ter sido posta depois das outras ilhas se acharem povoadas, pois que antes, todas ellas eram desertas, e uma tal designação não poderia aproveitar só áquella.{23}

[1] Azurara: C. da D. e C. de Guiné, cap. 83—Barros: D. 1.ª, l, 1.º, cap. 2.º e 3.º—D. de Goes: C. do P. D. Joam, cap. VIII—Andrade: C. de el-rei D. João P. 1.ª e 3.ª, cap. XCVII—C. Lusitano: V. do infante D. Henrique, l. 2.º
[2] «Azurara C. da D. e C. de Guiné. Capitulo XXX. Nota (1) do V. de Santarem. Recommendamos á attençâo do leitor esta importante passagem, pela qual se mostra quanto esta chronica é preciosa pela sua authenticidade, visto que a dita passagem nos revela que Azurara não só consultára os documentos escriptos, mas até os mesmos descobridores, testemunhas oculares d'estes factos, visto que elle confessa não poder fallar da particularidade de que tracta, por Nuno Tristão ser já finado.»
[3] «Azurara C. da D. e C. de Guiné. Introducção do V. de Santarem pag. XI. A sua fidelidade como historiador é incontestavel. O seu escrupulo e amor da verdade era tal que preferia antes deixar a relação de alguns acontecimentos imperfeita, do que completal-a quando não podia obter já as noticias exactas dos que os tinham presenceado. A sua authoridade como escriptor contemporaneo é immensa, pois Azurara viveu com o principe immortal que elle idolatrava, conheceu pessoalmente os principaes e intrepidos descobridores, os quaes pela maior parte eram criados do infante, e educados scientificamente debaixo de seus auspicios.»
[4] Barros: D. 1.ª, liv. 2.º, cap. 1.º: «E estas que elle escreveo (Azurara) d'este descobrimento do tempo do Infante dõ Henrique (segundo elle diz já as recebeo de hum Affonso de Çerveira que foy o primeiro que as pos em ordem: do qual Affonso de Çerveira nós achamos alguas Cartas escriptas em Beni, estando elle ali feiturisando por parte del Rey dom Affonso. E posto que tudo, ou a maior parte do que te qui escrevemos seja tirado da escriptura de Gomezyanes, & assi deste Affonso de Çerveira: não foi pequeno o trabalho que tivemos em ajuntar cousas derramadas, & por papeis rotos, & fora da ordem que elle Gomezeanes leuou no processo deste descobrimento.»
[5] Azurara: C. da D. e C. de Guiné, Introducção do V. de Santarem—Barros: Introducção ás D. da Asia.
[6] Azurara, C. do D. e C. de Guiné. Cap, LXXXIII, pag. 388.
[7] Francisco Manoel de Mello. «Epanaphora Amorosa», pag. 338.
[8] Azurara. C. da D. e C. de Guiné. Cap. IX.
D. de Goes. Ch. do P. D. João. Cap. VIII.
Barros. D. 1.ª Liv. 1.º Cap. V.
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quinta-feira, junho 07, 2012

4 PASSOS PARA O SUCESSO

quinta-feira, maio 31, 2012

Medo de Perder a Liberdade







Conserve a sua mente límpida e tranquila. O seu mundo é a sua mente e na sua mente só você pode mandar, portanto, mesmo entre quatro paredes, você pode sentir-se livre e feliz.
     A liberdade é um dom interior que lhe pertence. Use-o. Ninguém pode roubar a sua liberdade, a não ser você mesmo. Nunca esqueça que você é dono do universo, é o rei da criação, portanto pode estar num lugar e em todos os lugares ao mesmo tempo. Você tem dimensões divinas.
Irradie pensamentos de boa vontade, de harmonia, de paz, de bom entendimento e de fraternidade e esses pensamentos expulsarão toda e qualquer possibilidade de perder a liberdade.
Sinta-se sempre protegido divinamente e ninguém lançará mão contra você:
“Ninguém lançará mão de ti para te fazer mal” (Actos 18.10).

quinta-feira, maio 24, 2012

Provérbios



A ambição cerra o coração.
A apressada pergunta, vagarosa resposta.
A ave de rapina não canta.
A barriga não tem fiador.
A boa mão, do Rocim faz cavalo; e a ruim, do Cavalo faz Rocim.
A boca do ambicioso só se fecha com terra da sepultura.
A boda e a baptizado não vás sem ser convidado.
A cada Bacorinho, vem seu S. Martinho (11/11).
A cada boca uma sopa.
A cadela, com pressa, pariu os cachorros cegos.
A campo fraco, Lavrador forte.
A casamento e baptizado, não vás sem ser convidado.
A cavalo dado não se olha o dente.
A chuva de S. João (24/6), bebe o Vinho e come o Pão.
A chuva e o frio, metem a Lebre a caminho.
A conselho amigo, não feches o postigo.
A culpa morreu solteira.
A desgraça não marca encontro.
A encomenda é igual ao cabaz.
A espada e o anel, segundo a mão em que estiverem.
A falta do amigo há-de-se conhecer mas não aborrecer.
A fama longe soa. E mais depressa a má que a boa.
A fome é a melhor cozinheira.
A fome é boa mostarda.
A fome é o melhor tempero.
A fome faz sair o lobo do mato.
A galinha da vizinha é sempre melhor que a minha.
A ganhar se perde e a perder se ganha.
A gosto danado, o doce é amargo.
A ignorância e o vento são do maior atrevimento.
A justiça tarda mas não falha.
A Laranja, de manhã é Ouro, de tarde é Prata, e à noite mata.
A lei é dura, mas é para se cumprir.
A melhor Cozinheira, é a azeiteira.
A Morte abre a porta da Fama e fecha a da Inveja.
A mulher, sem pôr o pé faz pegada.
A necessidade aguça o engenho.
A necessidade não tem lei.
A noite é boa conselheira.
A nuvem passa, mas a chuva fica.
A ocasião faz o ladrão.
A ociosidade é mãe de todos os vícios.
A palavra é de prata e o silêncio é de ouro.
A pedra e a palavra, não se recolhe depois de deitada.
A Pescada de Janeiro, vale um carneiro.
A pintura e a peleja, de longe se veja.
A pobreza não é vileza, nem a riqueza nobreza.
A preguiça é a mãe de todos os vícios.
A preguiça morre à sede, andando a boiar.
A pressa é inimiga da perfeição.
A primeira, qualquer cai. À segunda cai quem quer.
A quem do seu foi mau despenseiro, não fies o teu dinheiro.
A quem tudo quer saber, nada se lhe diz.
A razão e a verdade fogem quando ouvem disputas.
A rir se corrigem os costumes.
A roupa suja lava-se em casa.
A união faz a força.
A vaidade é o espelho dos tolos.
A valentia com os fracos, só cobardia revela.
A ventre farto o mel amarga.
A verdade é como o azeite: Vem sempre ao de cima.
A vozes loucas, orelhas moucas.
Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.
Abril, Abril, está cheio o covil.
Agosto tem a culpa, e Setembro leva a fruta.
Água de Fevereiro, mata o Onzeneiro.
Água de Julho, no rio não faz barulho.
Água detida é má para a bebida.
Água e vento são meio sustento.
Água mole em pedra dura, tando dá até que fura.
Águas da Ascensão, das palhas fazem Grão.
Águas passadas não movem Moinhos.
Águas verdadeiras, por S. Mateus as primeiras.
Aí por Sant'ana, limpa a pragana.
Ainda que mude a pele a Raposa, seu natural desponja.
Albarda-se o burro à vontade do dono.
Almoço cedo, faz carne e sebo; almoço tarde, nem sebo nem carne.
Alto mar e não de vento, não promete seguro o tempo.
Amigo deligente, é melhor que parente.
Amigo disfarçado, inimigo dobrado.
Amigo que não presta e faca que não corta: que se percam, pouco importa.
Amigo verdadeiro vale mais do que dinheiro.
Amigo, vinho e azeite o mais antigo.
Amigos, amigos, negócios à parte.
Amor com amor se paga.
Amor de pais não há jamais.
Amor querido, amor batido.
Amores arrufados, amores dobrados.
Ande o frio por onde andar, no Natal cá vem parar.
Ande por onde andar o Verão, há-de vir no S. João.
Ano de nevão, ano de pão.
Ano de neve, paga o que deve.
Antes caia do cú do que do alforge.
Antes cegues que mal vejas.
Antes martelo que bigorna.
Antes mau ano que mau vizinho.
Antes minha face com fome amarela, que vergonha nela.
Antes que te cases, vê o que fazes.
Antes quebrar que torcer.
Antes quero Asno que me leve, que Cavalo que me derrube.
Ao arrendar cantar e ao pagar chorar.
Ao bebado e ao tolo, dá-se o caminho todo.
Ao bom amigo, com teu pão e teu vinho.
Ao bom pagador não dói o penhor.
Ao Diabo e à mulher nunca falta que fazer.
Ao Fevereiro e ao rapaz, perdoa tudo quanto faz.
Ao homem de esforço a fortuna lhe põe ombro.
Ao homem ousado a fortuna dá a mão.
Ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo.
Ao pé do pano é que se talha a obra.
Ao quinto dia verás que mês terás.
Ao rico mil amigos se deparam, ao pobre seus irmãos o desamparam.
Ao rico não devas e ao pobre não peças.
Ao rico não faltes, ao pobre não prometas.
Apanha com o cajado quem se mete onde não é chamado.
Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo.
Apanham-se mais moscas com mel do que com fel.
Apressado come cru.
Aproveite Fevereiro quem folgou em Janeiro.
Aquele que me tira do perigo, é meu amigo.
Aquilo que sabe bem, ou faz mal ou é pecado.
Arco de teixo duro de armar e fraco para disparar.
Arco sempre armado, ou frouxo ou quebrado.
Arrenda a vinha e o pomar se os queres desgraçar.
As aparências iludem.
As boas contas fazem os bons amigos.
As cadelas apressadas parem cães tortos.
As favas, Maio as dá, Maio as leva.
As obras falam, as palavras calam.
As palavras são como as cerejas, vêm umas atrás das outras.
As palavras voam, a escrita fica.
As paredes têm ouvidos.
As sopas e os amores, os primeiros são os melhores.
Às vezes não se respeita o burro, mas a argola a que ele está amarrado.
Assim como vires o tempo de Santa Luzia ao Natal, assim estará o ano mês a mês até final.
Até ao lavar dos cestos é vindima.
Até ao Natal um saltinho de pardal.
Até S. Pedro abre rego e fecha rego.
Até S. Pedro tem a vinha medo.
Atrás de mim virá, quem de mim bem dirá.
Ave que canta demais não sabe fazer o ninho.
Ave só não faz ninho.
Azeite de cima, mel do fundo e vinho do meio.
Barco parado, não faz viagem.
Barriga cheia, companhia desfeita.
Besta grande, Cavalo de pau.
Boa amizade, segundo parentesco.
Boa cepa, Maio a deita.
Boa fama granjeia quem não diz mal da vida alheia.
Bocado comido não faz amigo.
Boda molhada, boda abençoada.
Bodas em Março é ser madraço.
Boi luzidio nunca tem fastio.
Boi velho com os ossos lavra.
Bolsa despejada, casa amargurada.
Bolsa leve, coração pesado.
Bom é saber calar até ser tempo de falar.
Bom rei, se quereis que vos sirva, dai-me de comer.
Bom serás, se morto estás.
Burro com fome, cardos come.
Burro que geme, carga não teme.
Burro velho não toma andadura; e se a toma, pouco dura.
Burro velho, mais vale matá-lo que ensiná-lo.
Burro velho, não aprende línguas.
Cabrito de um mês, queijo de três.
Cada cabeça sua sentença.
Cada cor, seu paladar.
Cada macaco no seu galho,
Cada maluco com a sua mania.
Cada terra com seu uso cada roca com seu fuso.
Cada um por si, Deus por todos.
Cada um puxa a brasa para a sua sardinha.
Cada um sabe as linhas com que se cose.
Cada um sabe de si e Deus sabe de todos
Cada um vê mal ou bem, conforme os olhos que tem.
Calças brancas em Janeiro, sinal de pouco dinheiro.
Cama no chão, cama de cão.
Candeia que vai à frente alumia duas vezes.
Candelária (02/02) chovida, à candeia dá vida.
Cansa quem dá e mais cansa quem toma.
Cão de raça não usa coleira.
Cão que ladra não morde.
Carga leve, longe pesa.
Carnaval na eira, Páscoa à lareira.
Casa de Duque nunca pediu.
Casa de fato, ninho de rato.
Casa de pais, escola de filhos.
Casa de pobre, tacho de cobre.
Casa de pombo, casa de tombo.
Casa que não é ralhada, não é bem governada.
Casamento, apartamento.
Casarás e amansarás.
Cava fundo em Novembro para plantares em Janeiro.
Cavalo amarrado também pasta.
Cavalo fouveiro, deixa o dono no terreiro.
Cavalo que voa não quer espora.
Cesteiro que faz um cesto faz um cento, dando-lhe verga e tempo.
Céu escamado, ao terceiro dia molhado.
Cevada loira, sardinha como toira.
Choupana onde se ri vale mais que palácio onde se chora.
Chovam trinta Maios e não chova em Junho.
Chove, chove, galinha foge.
Chuva de ascensão dá palhinhas e pão.
Chuva de Junho, peçonha do mundo.
Chuva de S. João (24/06) talha o vinho e não dá pão.
Chuva em Dia das Candeias (02/02), ano de ribeiras cheias.
Chuva em Janeiro e não frio, dá riqueza no estio.
Colcha feita, noivo à espreita.
Com a mulher e o dinheiro, não zombes companheiro.
Com direito por teu lado, nunca receies dar brado.
Com o fogo não se brinca.
Com papas e bolos se enganam os tolos.
Com teu amo não jogues as peras, porque ele come as maduras e deixa-te as verdes.
Com vento se limpa o trigo, e os vícios com castigo.
Come pouco e bebe pouco, e dormirás como um louco.
Comer e coçar, o mal é começar.
Comer laranjas em Janeiro, é dar que fazer ao coveiro.
Comida fina em copos grossos faz mal aos ossos.
Como canta o galo velho, assim cantará o novo.
Como fizeres, assim acharás.
Contra a força, não há resistência.
Contra factos, não há argumentos.
Criado que faz o seu dever, orelhas de burro deve ter.
Cu de Cão e nariz de gente, nunca está quente.
Cuidados e caldos de Galinha, nunca fizeram mal a ninguém.
Dá Deus nozes, a quem não tem dentes.
Da discussão nasce a luz.
Dá duas vezes, quem prontamente dá.
Da flor de Janeiro, ninguém enche o celeiro.
Dádiva de ruim, a seu dono se parece.
Dar a César o que é de César, dar a Deus o que é de Deus.
De boas intenções, está o Inferno cheio.
De Espanha, nem bom vento nem bom casamento.
De lautas ceias, estão as sepulturas cheias.
De livro fechado, não sai letrado.
De manhã a manhã, perde o Carneiro a lã.
De manhã ao monte, de tarde à fonte.
De médico e de louco, todos temos um pouco.
De noite todos os gatos são pardos.
De pequenino se torce o pepino.
De rico a soberbo, não há palmo inteiro.
De S.ª Catarina ao Natal, um mês igual.
Defeitos do meu amigo, lamento mas não maldigo.
Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer.
Depois da batalha aparecem os valentes.
Depois da tempestade vem a bonança.
Depois de casa roubada trancas à porta.
Depois de S. Vicente já se pode enganar toda a gente.
Depois do burro morto, cevada ao rabo.
Depressa e bem, não há quem.
Desmanchar e fazer tudo é fazer.
Deus ajuda quem trabalha, que é o capital que menos falha.
Deus ajudando vai em Julho mereando.
Deus dá o frio conforme a roupa.
Deus é bom e o diabo não é mau.
Deus escreve direito, por linhas tortas.
Deus nos livre dos maus vizinhos de ao pé da porta.
Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce.
Deus vê o que o Diabo esconde.
Devagar se vai ao longe.
Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio.
Dezembro frio, calor no estilo.
Dia de S. Barnabé (11/6), sega-se a palma do pé.
Dia de S. Silvestre (31/12), quem tem carne que lhe preste.
Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão.
Dinheiro e santidade, a metade da metade.
Dinheiro emprestado, anda mal parado.
Dinheiro emprestaste, inimigo criaste.
Dinheiro esquecido, nem é pago nem agradecido.
Dinheiro não traz felicidade.
Diz o roto ao nu: porque não te vestes tu?
Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.
Do Natal à Sta. Luzia, cresce um palmo em cada dia.
Do trabalho e experiência, aprendeu o Homem a ciência.
Dos 15 aos 20, caso com quem o meu pai quiser; dos 20 aos 25 é com quem eu quiser; depois dos 25, venha quem vier, não fica sem mulher.
Dos enganos vivem os Escrivães.
Dos Santos ao Natal, é Inverno natural.
Duro com duro, não faz bom muro.
É mais fácil prometer que dar.
É tarde para economia, quando a bolsa está vazia.
Em Abril águas mil.
Em Abril queima a velha o carro e o carril.
Em Abril, cada pulga dá mil.
Em Abril, lavra as altas, mesmo com água pelo machil.
Em Abril, vai onde deves ir, mas volta ao teu cuvil.
Em Agosto, antes vinagre do que mosto.
Em Agosto, nem vinho nem mosto.
Em Agosto, Sardinhas e mosto.
Em ano chuvoso, até o diligente é preguiçoso.
Em ano geado, não há pão dobrado.
Em casa de ferreiro, espeto de pau.
Em casa de Gonçalo, pode mais a galinha que o galo.
Em casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão.
Em Dezembro, treme de frio cada membro.
Em dia de festa a barriga atesta.
Em dia de S. Matias (22/2), começam as enxertias.
Em Fevereiro, chega-te ao lameiro.
Em Fevereiro, chuva; em Agosto, uva.
Em Janeiro saltinho de carneiro.
Em Janeiro sobe ao outeiro; se vires verdejar, põe-te a chorar, se vires nevar, põe-te a cantar.
Em Janeiro uma hora por inteiro e, quem bem olhar, hora e meia há-de achar.
Em Janeiro, cada Ovelha com seu Cordeiro.
Em Janeiro, nem Galgo lebreiro, nem Açor perdigueiro.
Em Janeiro, seca a Ovelha no fumeiro.
Em Janeiro, sete capelos e um sombreiro.
Em Janeiro, um Porco ao sol e outro ao fumeiro.
Em Maio queima-se a cereja ao borralho.
Em Maio, já a velha aquece o palácio.
Em Maio, nem à porta de casa saio.
Em Março, esperam-se as rocas e sacham-se as hortas.
Em Março, tanto durmo como faço.
Em Novembro, prova o vinho e planta o cebolinho.
Em Outubro sê prudente: guarda pão, guarda semente.
Em Outubro, o fogo ao rubro.
Em Outubro, paga tudo.
Em princípio de Maio, corre o Lobo e o Veado.
Em Roma, faz como os Romanos.
Em Setembro, ardem os montes, secam-se as fontes.
Em tempo de Figos, não há amigos.
Em tempo de guerra todo o buraco é trincheira.
Em tempo de guerra, não se limpam as armas.
Em terra de cegos, quem tem um olho é Rei.
Enquanto se capa, não se assobia.
Enquanto se cava na vinha, não se cava no bacelo.
Entradas de Leão, saídas de Sendeiro.
Entre marido e mulher não metas a colher.
Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira.
Escândalo aparta amor.
Escuta cem vezes, e fala uma só.
Escuta o conselho dos outros e segue o teu.
Espera de teus filhos o que a teus pais fizeres.
Este mundo é uma bola; quem anda nela é que se amola.
Fala pouco e bem, ter-te-ão por alguém.
Fala-se no diabo e aparece-lhe o rabo.
Falai no mau, aparelhai o pau.
Falar sem cuidar, é atirar sem apontar.
Faz da noite, noite; e do dia, dia e viverás com alegria.
Fazer bem a vilão ruim é lançar água em cesto roto.
Feno alto ou baixo, em Junho é cegado.
Fevereiro é dia, e logo é Santa Luzia.
Fevereiro enxuto, rói mais pão do que quantos ratos há no mundo.
Fevereiro quente, traz o diabo no ventre.
Fevereiro recouveiro, afaz a perdiz ao poleiro.
Fia-te na Virgem e não corras e logo vês o trambolhão que levas.
Fiandeira não ficaste, pois em Maio não fiaste.
Fidalgos, galgos e pardais são três espécies de animais.
Filho de burro não pode ser cavalo.
Filho de peixe sabe nadar.
Filho és pai serás, assim como fizeres assim acharás.
Filho que pais amargura, jamais conte com ventura.
Filho sem dor, mãe sem amor.
Filhos criados, trabalhos dobrados.
Filhos das minhas filhas, meus netos são. Filhos dos meus filhos serão ou não.
Flor ao peito, asno perfeito.
Formosura, pouco dura.
Fui a casa da minha vizinha, envergonhei-me; vim para a minha e governei-me.
Gado de bico, nunca deixou ninguém rico.
Gaivotas em terra temporal no mar.
Galinha cantadeira é pouco poedeira.
Galinha do mato, não quer capoeira.
Galinha gorda ao maltês, ou podre, ou choca de um mês.
Galinha que canta, faca na garganta.
Galinhas de S. João, no Natal ovos dão.
Galo cantador é pouco galador.
Galo que acompanha pato morre afogado.
Ganhá-lo como um preto, gastá-lo como um fidalgo.
Ganhai o que souberdes e poupai o que puderdes.
Gato escaldado, de água fria tem medo.
Goraz de Janeiro vale dinheiro.
Gordura, é formosura.
Grandes discursos não provam grande sabedoria.
Grão a grão, enche a galinha o papo.
Guarda de comer, não guardes de fazer.
Guarda hoje o que não precisas, que amanhã pode servir-te.
Guarda o melhor saio para Maio.
Guarda o que não presta, terás o que é preciso.
Guarda prado, criarás gado.
Guarda-te do homem que não fala e do cão que não ladra.
Guardado está o bocado para quem o há-de comer.
Há males que vêm por bem.
Há mar e mar, há ir e voltar.
Há mil modos de morrer e um só de nascer.
Haja fartura, que a fome ninguém a atura.
Homem folgazão, no trabalho sonolento.
Homem necessitado, cada ano apedrejado.
Homem pequenino, ou velhaco ou dançarino.
Homem prevenido vale por dois.
Hora a hora, Deus melhora.
Imita a formiga e viverás sem fadiga.
Inverno de Março e seca de Abril, deixam o lavrador a pedir.
Ira e cobiça, não queiras havê-las por companheiras.
Janeiro fora, cresce uma hora.
Janeiro geoso e Fevereiro chuvoso fazem o ano formoso.
Janeiro molhado, se não cria o pão, cria o gado.
Janeiro molhado, se não é bom para o pão, não é mau para o gado.
Janeiro quente, traz o Diabo no ventre.
Janeiro tem uma hora por inteiro.
Julho quente, seco e ventoso, trabalha sem repouso.
Junho calmoso, ano formoso.
Junho floreiro, paraíso verdadeiro.
Junho, dorme-se sobre o punho.
Junho, foice em punho.
Junta-te aos bons e serás como eles; junta-te aos maus e serás pior do que eles.
Lá vai o mal, onde comem o ovo sem sal.
Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão.
Lágrimas de herdeiros, sorrisos sorrateiros.
Lenha de figueira, rica de fumo, fraca de madeira.
Leste escuro, Sol seguro.
Livra-te do homem que não fala e do cão que não ladra.
Logo que Outubro venha, procura a lenha.
Longe da vista, longe do coração.
Lua cheia, abóboras como areia.
Lua nova trovejada, trinta dias é molhada.
Luar de Janeiro não tem parceiro; mas lá vem o de Agosto que lhe dá no rosto.
Lugar ventoso, lugar sem repouso.
Macaco velho, não trepa galho seco.
Maio couveiro não é vinhateiro.
Maio frio e Junho quente: bom pão, vinho valente.
Maio hortelão, muita palha e pouco grão.
Maio pardo e ventoso faz o ano formoso.
Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo.
Mais fere a palavra do que a espada.
Mais homens se afogam num copo do que no mar.
Mais se tira com amor do que com dor.
Mais vale burro vivo do que sábio morto.
Mais vale cair em graça, do que ser engraçado.
Mais vale cão vivo, que leão morto.
Mais vale inveja que pena.
Mais vale ir, do que mandar.
Mais vale lavrar o nosso ao longe do que o alheio ao perto.
Mais vale pão duro, que figo maduro.
Mais vale penhor na arca, do que fiador na praça.
Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto.
Mais vale prevenir, que remediar.
Mais vale prudência que ciência.
Mais vale quem Deus ajuda do que quem muito madruga.
Mais vale recusar com graça, do que dar com grosseria.
Mais vale só, que mal acompanhado.
Mais vale tarde do que nunca.
Mais vale um cavalo com uma cela, do que três celas sem cavalo.
Mais vale um farto, que dois famintos.
Mais vale um gosto na vida, que três reis na algibeira.
Mais vale um pássaro na mão, que dois a voar.
Mais vale um que saiba mandar, do que cem a trabalhar.
Mais vale um sim tardio do que um não vazio.
Mais vale um toma do que dois te darei.
Mais vale um vizinho à mão, do que ao longe o nosso irmão.
Mais viver, mais aprender.
Mal alheio, pesa como um cabelo.
Mal haja quem de mim mal diz, mais quem mo traz ao nariz.
Mal por mal, antes cadeia que hospital.
Mal vai Portugal se não há três cheias antes de Natal.
Malha o ferro enquanto está quente.
Manda e faz: servido serás.
Manda quem pode. Obedece quem deve.
Manhã de açougue: quem mal fala, pior ouve.
Mãos frias amores todos os dias.
Mãos frias, coração quente, amor para sempre.
Mãos quentes amores ausentes.
Março duvidoso, S. João farinhoso.
Março, marçagão, manhãs de Inverno e tardes de Verão.
Meia vida é a candeia e o vinho outra meia.
Mel, se o achaste come o que baste.
Melhor é o ano tardio, do que o vazio.
Mentir, nem zombando.
Mocidade ociosa, traz velhice vergonhosa.
Morra a pessoa mas fique a fama.
Morra Marta, mas morra farta.
Morrer por morrer, morra o meu pai que é mais velho.
Morreu o bicho, acabou-se a peçonha.
Morte com honra, não desonra.
Morte desejada, é vida dobrada.
Morto por morto, antes a velha que o porco.
Muda-se de moleiro, não se muda de ladrão.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Muita gente junta não se salva.
Muitas vezes se perde por preguiça o que se ganha por justiça.
Muito atura quem precisa.
Muito esquece a quem não sabe.
Muito falar, pouco acertar.
Muito falar, pouco pensar.
Muito gasta o que vai e vem, mas mais gasta o que se detém.
Muito pode a velhinha com o que leva para a sua casinha.
Muito riso, pouco siso.
Muitos conhecidos, poucos amigos.
Muitos poucos, fazem muito.
Mulher doente, mulher para sempre.
Mulher e sardinha querem-se da pequenina.
Mulher que assobia, ou capa porcos ou atraiçoa o marido.
Mulher que assobia, ou é cabra ou é vadia.
Mulher sardenta, mulher rabugenta.
Na casa cheia, depressa se faz a ceia.
Na casa deste home quem não trabalha não come.
Na casa onde há dinheiro deve haver um só caixeiro.
Na necessidade prova-se a amizade.
Na prisão e no hospital, vês quem te quer bem e quem te quer mal.
Na terra onde fores viver faz como vires fazer.
Não acordes o gato que dorme.
Não adianta chorar sobre o leite derramado.
Não contes os pintos senão depois de nascidos.
Não cresce erva em caminho calcado.
Não dá a bota com a perdigota.
Não deites foguetes antes da festa.
Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.
Não desejes mal a ninguém, que o teu mal pelo caminho vem.
Não é bom o mosto colhido em Agosto.
Não é com vinagre que se apanham moscas.
Não é por grandes orelhas que o burro vai à feira.
Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo.
Não faças nada antes de consultar a almofada.
Não há amor como o primeiro.
Não há atalho sem trabalho.
Não há ausentes sem culpas, nem presentes sem desculpas.
Não há bacorinho sem seu S. Martinho.
Não há bela sem senão.
Não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe.
Não há boa terra sem bom lavrador.
Não há duas sem três.
Não há Entrudo sem Lua Nova nem Páscoa sem Lua Cheia.
Não há fome que não dê em fartura.
Não há fumo sem fogo.
Não há guerra de mais aparato do que muitas mãos no mesmo prato.
Não há luar como o de Janeiro nem amor como o primeiro.
Não há maior amigo do que Julho com seu trigo.
Não há mal que bem não traga.
Não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe.
Não há mau tempo senão quando faz vento.
Não há mês mais irritado do que Abril zangado.
Não há onde o filho fique bem, como no colo da mãe.
Não há pior cego do que aquele que não quer ver.
Não há regra sem excepção.
Não há roca sem fuso.
Não há Sábado sem Sol, nem Domingo sem Missa, nem Segunda sem preguiça.
Não hajas dó de quem tem muita roupa e faz má cama.
Não mates mais do que podes salgar.
Não medram as galinhas onde a raposa mora.
Não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu.
Não ponhas o carro à frente dos bois.
Não se deve contar com um ovo quando ainda está dentro da galinha.
Não se falar ao mestre do que ele ensina mal.
Não se fazem omeletes sem partir ovos.
Não se foge ao destino.
Não se pescam trutas a bragas enxutas.
Nao se pode ter sol na eira e chuva no nabal.
Não suba o sapateiro além da chinela.
Não te rias da caveira, que um dia nela te vais tornar.
Não ter eira nem beira, nem raminho na figueira.
Não tira bom resultado, quem vai onde não é chamado.
Não tornes por detrás, pois é fraqueza desistir-se de coisa começada.
Nas costas dos outros se vêm as nossas.
Nasce erva em Março, ainda que lhe dêem com um maço.
Natal a assoalhar e Páscoa ao mar.
Natal à segunda-feira: Lavrador alarga a eira.
Natal na praça e Páscoa em casa.
Nem em Agosto caminhar, nem em Dezembro marear.
Nem mesa sem pão, nem exército sem capitão.
Nem no Inverno sem capa, nem no Verão sem cabaça.
Nem sempre, nem nunca.
Nem só de pão vive o homem.
Nem tudo o que abana cai.
Nem tudo o que luz é ouro, nem tudo o que alveja é prata.
Nem tudo o que vem à rede é peixe.
Neve em Fevereiro, presságio de mau celeiro.
Nevoeiro de S. Pedro, põe em Julho o vinho a medo.
Nevoeiro na serra, chuva na terra.
Ninguém está bem com a sorte que tem.
Ninguém se ria com o mal do vizinho, que o seu pode vir a caminho.
Ninguém toque na ferida quando ainda sangra e está dorida.
Ninho feito, Pega morta.
No amor, quem foge é o vencedor.
No aperto do perigo, conhece-se o amigo.
No Carnaval nada parece mal.
No dia da cozedura, até as aranhas ficam fartas.
No dia de S. Lourenço (10/08) vai à vinha e enche o lenço.
No dia de S. Martinho (11/11) vai à adega e prova o vinho.
No dia de S. Martinho (11/11), mata o teu porco e prova o teu vinho.
No dia de S. Martinho (11/11): lume, castanhas e vinho.
No dia de Santiago (25/07) pinta o bago.
No dia de Santiago (25/07) vai à vinha e prova o bago.
No meio está a virtude.
No melhor pano cai a nódoa.
No minguante de Janeiro, corta o madeiro.
No Natal à janela, na Páscoa à panela.
No Outono o Sol tem sono.
No poupar é que está o ganho.
No princípio ou no fim, costuma Abril a ser ruim.
No S. João, a sardinha pinga no pão.
No tempo do cuco, tanto está molhado como enxuto.
Noite aqui, noite em casa.
Norte frio, água no rio.
Nunca de corvo bom ovo.
Nunca digas desta água não beberei.
Nunca falta um chinelo velho para um pé manco.
Nuvens em Setembro: chuva em Novembro e neve em Dezembro.
O alheio chora o seu dono.
O barato sai caro.
O Bem soa; o Mal, voa.
O bom filho à casa torna.
O bom julgador por si se julga.
O bom junto ao pequeno fica maior, e junto ao mau fica pior.
O cão com raiva, do seu dono trava.
O casamento e a mortalha no céu se talha.
O descuidado sempre é necessitado.
O Diabo cobre com uma manta e descobre com um chocalho.
O fraco ofendido atraiçoa e o forte perdoa.
O fruto proibido é o mais apetecido.
O futuro a Deus pertence.
O ganho e a lazeira andam de feira em feira.
O hábito não faz o monge.
O ladrão volta sempre ao local do crime.
O mal e o bem à face vem.
Ó mar alto, ó mar alto, ó mar alto sem ter fundo; mais vale andar no mar alto do que nas bocas do mundo.
O mau é ter mais olhos do que barriga.
O medo guarda a vinha.
O Melão e a Mulher são maus de conhecer.
O mês de Agosto será gaiteiro, se for bonito o 1º de Janeiro.
O morgado e a morgada e o resto da manada não prestam para nada.
O necessário deleita, o desnecessário atormenta.
O novo por não saber e o velho por não poder deitam tudo a perder.
O olho do dono, engorda o cavalo.
O pouco basta, e o muito se gasta.
O primeiro milho é para os pardais.
O prometido é devido.
O que a água dá, a água levará.
O que anda a cavalo vive pouco; e o que anda a pé, contam-no por morto.
O que é demais, molesta.
O que está feito, feito está.
O que não mata, engorda.
O que não tem remédio, remediado está.
O que o juízo dos pais acumula, a loucura dos filhos desbarata.
O que para uns é mel, para outros é fel.
O que tem de ser, tem muita força.
O rabo, sempre cheira ao que larga.
O Robalo, quem o quiser há-de escamá-lo.
O Saber não ocupa lugar.
O segredo é a alma do negócio.
O seguro morreu de velho.
O seu a seu dono.
O Sogro e o Furão só dão interesse debaixo do chão.
O sol quando nasce é para todos.
O Surdo faz falar o Mudo.
O tempo é o melhor Juiz de todas as coisas.
O tempo em Fevereiro enganou a Mãe ao soalheiro.
O tempo perdido nunca se recupera.
O trabalho do menino é pouco, mas quem o despreza é louco.
O último a rir é o que ri melhor.
O Verão colhe e o Inverno come.
O Vinho e o Amigo, do mais antigo.
Obra de vilão, deitar pedra e esconder a mão.
Ofende os bons quem poupa os maus.
Olhar para a uva não mata a sede.
Olho azul em português não é sinal de boa rês.
Olho por olho, dente por dente.
Olhos que não vêm, coração que não sente.
Oliveira de meu avô, Figueira de meu pai, vinha que eu plantar.
Onde fores ter, faz como vires fazer.
Onde se chora não cantes.
Onde vai o emprestado, que venha remediado.
Orelha de homem, nariz de mulher e focinho de cão, nunca viram o Verão.
Os amigos são para as ocasiões.
Os cães ladram mas a caravana passa.
Os dias do Natal são saltos de pardal.
Os erros dos médicos a terra os cobre.
Os homens não se medem aos palmos.
Os males dos nossos avós, fazem-no eles e pagamo-los nós.
Os olhos pedem mais do que a barriga aguenta.
Ouriços do S. João são do tamanho dum botão.
Ouro adquirido, sono perdido.
Outubro meio chuvoso, torna o lavrador venturoso.
Outubro quente traz o diabo no ventre.
Outubro suão, negaças de Verão.
Ouve tudo bem, diz o que lhe convém.
Ovelha que berra, bocado que perde.
P'lo S. João, Perdigoto na mão.
P'lo S. Mateus, pega nos bois e lavra com Deus.
P'ra trás, mija a burra.
Paga o justo pelo pecador.
Pagar e morrer, é a última coisa a fazer.
Pai rico, filho nobre, neto pobre.
Pais galegos, filhos barões, netos ladrões.
Pais impertinentes fazem filhos desobedientes.
Palavra de Rei, não volta atrás.
Palavras de mel, coração de fel.
Palavras, leva-as o vento.
Panela velha faz boa sopa.
Pão com olhos, queijo sem olhos e vinho que espirre para os olhos.
Pão proibido abre o apetite.
Pão que sobre, Carne que baste e Vinho que falte.
Para a fome não há mau pão.
Para baixo todos os Santos ajudam.
Para bom entendedor, meia palavra basta.
Para dar e para ter, muito rico é preciso ser.
Para ensinar, é preciso aprender.
Para grandes males, grandes remédios.
Para Junho guarda um toco e uma pinha, e a velha que o dizia guardados os tinha.
Para lá do Marão, mandam os que lá estão.
Para mal que hoje acaba, não é remédio o de amanhã.
Para ovos frigir, temos de os partir.
Para palavras loucas, orelhas moucas.
Para parte de Fevereiro, guarda lenha de Quinteiro.
Parar é morrer.
Páscoa alta, chumbo na malta.
Páscoa em Março, ou fome ou mortaço.
Pássaro do campo cedo madruga.
Patrão fora, feriado na loja.
Pau deitado não chama trovoada.
Pedir a avarento, é caçar no mar.
Pedra que rola, não cria musgo.
Peixe não puxa carroça.
Pela boca morre o peixe.
Pelas costas dos outros se vêm as nossas.
Pelo andar da carruagem vê-se logo quem lá vai dentro.
Pelo S. Martinho (11/11) todo o mosto é bom vinho.
Pelo S. Martinho, deixa a água pró moinho.
Pelo S. Matias (25/02) começam as enxertias.
Pelo Santiago (25/07), cada pinga vale um cruzado.
Pelo voo se conhece a ave.
Pelos Santos neve nos campos.
Pelos Santos trigo semeado, fruto arrancado.
Perdido por cem, perdido por mil.
Pintainho de Janeiro, vai com a mãe ao poleiro.
Poda-me em Janeiro, empa-me em Março e verás o que te faço.
Podar em Março é ser madraço.
Polidez, pouco custa e muito vale.
Por casar nunca ninguém ficou, não foi com quem quis, foi com quem calhou.
Por cima de melão, vinho de tostão.
Por falar se ganha, por falar se perde.
Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera.
Por S. Gil (01/08), adoba teu candil.
Por S. Mateus faz conta das ovelhas que os borregos são teus.
Por S. Matias (22/02), noites iguais aos dias.
Por S. Simão e S. Judas (28/10) colhidas são as uvas.
Por S. Vicente, toda a água é quente.
Por Santa Maria de Agosto repasta a vaca um pouco.
Porcos com frio e homens com vinho fazem grande ruído.
Pouco a pouco fia a velha o copo.
Pouco e em paz muito se faz.
Poupar enquanto há; não havendo, poupado está.
Preso por ter cão e preso por não ter.
Presunção e água benta cada qual toma a que quer.
Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno.
Primeiros trovões e relâmpagos, fertilidade de frutos e esterilidade de campos.
Quando a esmola é grande, o santo desconfia.
Quando a esmola é muita, o pobre desconfia.
Quando chove antes da missa, toda a semana borriça.
Quando chove em Agosto, não metas teu dinheiro em mosto.
Quando é de morte o mal, não há médico para curar tal.
Quando é velho o cão, se ladra é porque tem razão.
Quando em Março arrulha a perdiz, ano feliz.
Quando está fora o gato folga o rato.
Quando Maio chegar, quem não arou tem de arar.
Quando mal, nunca pior.
Quando mija um português, mijam dois ou três.
Quando minguar a Lua não comeces coisa alguma.
Quando não chove em Fevereiro, nem prados nem centeio.
Quando o ano é de leite, até os bodes o dão.
Quando o burro é jeitoso, qualquer albarda lhe fica bem.
Quando o pobre come galinha, um dos dois está doente.
Quando Outubro for erveiro, Guarda para Março o palheiro.
Quando se declara a guerra, o Diabo alarga o Inferno.
Quando um burro zurra, os outros abaixam as orelhas.
Quando um cai, todos o pisam.
Quando vem Março ventoso, Abril sai chuvoso.
Quanto maior a nau, maior a tormenta.
Quanto mais alto se sobe, maior o trambolhão.
Quanto mais barato estiver o pão, melhor canta o coração.
Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães.
Quanto mais depressa, mais devagar.
Quanto tens, quanto vales.
Queijo com pão faz homem são.
Queimada a casa, acudir com água.
Queira ou não queira, o burro há-de ir à feira.
Quem a boa árvore se encosta, boa sombra o acolhe.
Quem a muitos há-de manter, muito há-de ter.
Quem abana, nem sempre cai.
Quem acompanha com coxo, ao terceiro dia coxeia.
Quem ama a Beltrão, ama o seu cão.
Quem anda à chuva, molha-se.
Quem ao comer sua, ao trabalho amua.
Quem ao moinho vai, enfarinhado sai.
Quem aos vinte não é, aos trinta não tem, aos quarenta não é ninguém.
Quem bebe no S. Martinho (11/11), faz de velho e de menino.
Quem bem ama não esquece.
Quem bem nada não se afoga.
Quem boa cama fizer, nela se há-de deitar.
Quem brinca com o fogo queima-se.
Quem cabritos vende e cabras não tem, dalgum lado lhe vem.
Quem caça de coração é o dono do furão.
Quem cala, consente.
Quem cansa sempre alcança.
Quem canta antes d' almoço, chora antes do Sol posto.
Quem canta, seu mal espanta.
Quem casa filha, depenado fica.
Quem casa, quer casa.
Quem com farelos se mistura, porcos o comem.
Quem com ferros mata, com ferros morre.
Quem com os braços não pode, com os dentes acode.
Quem com porcos sonha, até o mato lhe ronca.
Quem come carne na véspera de Natal, ou é burro ou animal.
Quem come fel, não pode cuspir mel.
Quem compra barato, compra duas vezes.
Quem compra terras, compra guerras.
Quem confessa a verdade, não merece castigo.
Quem conhece o seu Coração, desconfia dos seus olhos.
Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto.
Quem convida de véspera, não quer que vá à festa.
Quem corre por gosto, não cansa.
Quem dá aos pobres, empresta a Deus.
Quem dá e volta a tirar ao Inferno vai parar.
Quem dá o pão, dá a educação.
Quem dá o que tem, a pedir vem.
Quem deixa o certo pelo incerto, ou é tolo ou pouco esperto.
Quem desconfia, não é de confiar.
Quem desdenha quer comprar.
Quem deve a Pedro e paga a Gaspar, volta a pagar.
Quem dívidas não tem, com a sua consciência está bem.
Quem diz tudo o que quer, ouve o que não gosta.
Quem é desconfiado não é sério.
Quem é pobre não tem vícios.
Quem é surdo, guarda segredos.
Quem em Abril não varre a eira e em Maio não rega a leira, anda todo o ano em canseira.
Quem em Janeiro lavrar, tem sete pães para o jantar.
Quem em Julho ara e fia, Ouro cria.
Quem em Maio não merenda, aos finados se encomenda.
Quem em Maio relva, não tem pão nem erva.
Quem em Março come sardinha, em Agosto lhe pica a espinha.
Quem em novo não trabalha, em velho come palha.
Quem em ruim terra nascer, sempre para ela há-de pender.
Quem empresta não melhora.
Quem encontrou sem muito procurar, é porque muito procurou sem encontrar.
Quem espera sempre alcança.
Quem espera, desespera.
Quem está de fora, não racha lenha.
Quem está mal, que se mude.
Quem está vivo, sempre aparece.
Quem estraga velho, paga novo.
Quem fala no barco, quer embarcar.
Quem faz mal, espere outro tal.
Quem faz o que pode, a mais não é obrigado.
Quem feio ama, bonito lhe parece.
Quem guarda, acha; e quem cria, mata.
Quem longe vai casar, ou é enganado ou vai enganar.
Quem madruga, Deus ajuda.
Quem mais alto sobe, ao mais baixo vem parar.
Quem mais jura, mais mente.
Quem mal anda, mal acaba.
Quem mal entende, mal conta.
Quem me repreende, do mal me defende.
Quem meu filho beija, minha boca adoça.
Quem muitas estacas escancha, alguma lhe há-de pegar.
Quem muito apalpa pouco acerta.
Quem muito chora, pouco mija.
Quem muito dorme pouco aprende.
Quem muito fala, pouco aprende.
Quem muito se abaixa, o cu se lhe vê.
Quem namora pelo fato, leva o Diabo ao contrato.
Quem não aparece, esquece.
Quem não arrisca, não petisca.
Quem não chora não mama.
Quem não come por ter comido, não é mal de grande perigo.
Quem não confia, não é de confiar.
Quem não cria, não tosquia.
Quem não debulha em Agosto, debulha com mau rosto.
Quem não deve, não teme.
Quem não estorva, ajuda.
Quem não estraga não estreia.
Quem não governa a lenha, não governa a casa que tenha.
Quem não lerda não medra.
Quem não pede, não o ouve Deus.
Quem não quer ser lobo, não lhe vista a pele.
Quem não sabe ser caixeiro, que feche a loja.
Quem não sabe, é como quem não vê.
Quem não se fartou no comer, não se farta no lamber.
Quem não se ri ao mês, ou é tolo ou quem o fez.
Quem não se sente, não é filho de boa gente.
Quem não tem bois, não promete carrada.
Quem não tem bois, ou antes ou depois.
Quem não tem cão caça com gato.
Quem não tem dinheiro não tem vícios.
Quem não tem marido, não tem amigo.
Quem não tem padrinho, morre Moiro.
Quem não tem vergonha todo o mundo é seu.
Quem o alheio veste na praça o despe.
Quem o inimigo poupa, nas mãos lhe morre.
Quem parte e reparte e fica com a pior parte, ou é tolo ou não tem arte.
Quem pássaros receia, milho não semeia.
Quem pede a Pedro e paga a Gaspar, volta a pagar.
Quem pega por moça, perde por força.
Quem planta no Outono, leva um ano de abono.
Quem poda em Março, vindima no regaço.
Quem porfia, mata caça.
Quem pouco sabe, depressa o reza,
Quem primeiro alça, primeiro calça.
Quem quer bom ervilhal, semeia-o antes de Natal.
Quem quer festa, sua-lhe a testa.
Quem quer sopas gordas, vaca nelas.
Quem quer, vai; quem não quer, manda.
Quem quiser bolota que a trepe.
Quem quiser fazer uma viagem em paz, não leve mulher, nem cão, nem rapaz.
Quem quiser luxo, que lhe custe.
Quem quiser o alho cachapernudo, plante-o no mês do Entrudo.
Quem sabe do barco é o barqueiro.
Quem sabe falar, evita guerrilhar.
Quem sai aos seus não degenera
Quem saiba e pense, vence e convence.
Quem se deserda antes que morra, merece uma cachaporra.
Quem se mete por atalhos, mete-se em trabalhos.
Quem se pica cardos come.
Quem se quer ver sempre se encontra.
Quem se rala morre cedo.
Quem se veste de ruim pano, veste-se duas vezes por ano.
Quem semeia ventos, colhe tempestades.
Quem seu amigo quiser conservar, com ele não há-de negociar.
Quem só mata, morre cedo.
Quem só uma ovelha tem, mil lobos a comem.
Quem te avisa, teu amigo é.
Quem tem amigos, não morre na cadeia.
Quem tem amores, tem dores.
Quem tem boca não manda soprar.
Quem tem boca, vai a Roma.
Quem tem calos, não se mete em apertos.
Quem tem capa sempre escapa.
Quem tem cu tem medo.
Quem tem filhos tem cadilhos.
Quem tem fome, cardos come.
Quem tem medo fica em casa.
Quem tem Saúde e Liberdade é rico e não sabe.
Quem tem sorte ao jogo não tem sorte aos amores.
Quem tem telhados de vidro, não deve atirar pedras ao do vizinho.
Quem tem unhas é que toca viola.
Quem tem vagar, faz colheres.
Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita.
Quem tudo quer vingar, cedo há-de acabar.
Quem tudo quer, tudo perde.
Quem vai à guerra, dá e leva.
Quem vai ao mar avia-se em terra.
Quem vai para a cama sem ceia, toda a noite rabeia.
Quem vê caras não vê corações.
Quem vier atrás, feche a porta.
Quem vive no convento é que sabe o que se passa lá dentro.
Querer é poder.
Queres pasmar o teu vizinho? Lavra e esterca p'lo S. Martinho.
Queres um conselho, pede-o ao velho.
Ramos molhados, anos melhorados.
Rego aberto, meia jeira é.
Ri melhor quem ri por último.
Ri-se o diabo quando o pobre dá ao farto.
Rogos de rei, mandados são.
Roma e Pavia não se fizeram num dia.
Ruídos ao Nascente: desapõe os bois e foge sempre.
S. João (24/06) e S. Miguel (29/09) passados tanto manda o amo como o criado.
S. Miguel (29/09) passado, todo o amo é mandado.
S. Miguel (29/09) soalheiro, enche o celeiro.
Saber esperar é uma grande virtude.
Santos da Terra não fazem milagres.
Sapato branco em Janeiro é sinal de pouco dinheiro.
Sáveis por S. Marcos (25/04), enchem-se os barcos.
Se a Senhora das Candeias (02/02) rir, está o Inverno para vir.
Se chover antes de missa, toda a semana borriça.
Sê em Agosto cuidadoso e aguilhoa o preguiçoso.
Se em Outubro te sentires gelado, lembra-te do gado.
Se o Inverno não erra caminho, têmo-lo pelo S. Martinho.
Se o sapo canta em Janeiro, guarda a palha no sendeiro.
Se o velho pudesse e o novo quisesse, nada havia que não se fizesse.
Se queres ser bom alheiro, planta alhos em Janeiro.
Se queres ser bom milheiro, faz o alqueire em Janeiro.
Se queres um bom alhal, semeia-o antes do Natal.
Se queres ver o teu corpo, abre o teu porco.
Se queres ver o teu marido morto, dá-lhe couves em Agosto.
Seda em Janeiro, ou fantasia ou falta de dinheiro.
Segundo lá escolhestes, assim cá vos contentai.
Semana Santa molhada, terra alterada.
Semeia e cria, e viverás com alegria.
Setembro, ou seca as fontes ou leva as pontes.
Simão (Outubro) favas no chão.
Sol de Junho, madruga muito.

Tanta chuva pelas candeias, tantas abelhas pelas colmeias.
Tanta vez vai o rato ao moinho, que um dia fica lá com o focinho.
Tantas cabeças, quantas sentenças.
Tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia lá fica a asa.
Tanto lês, que treslês.
Tanto vale cada um na praça, quanto vale o que tem na caixa.
Tantos dias de geada terá Maio, quantos de nevoeiro teve Fevereiro.
Tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta.
Tão ladrão é o que vai à vinha, como o que fica à espreita.
Tem o porco meão pelo S João (24/06).
Tempo de Santa Luzia, cresce a noite, minga o dia.
Tempo é dinheiro.
Temporã é a castanha que por Março arrebenta.
Todo o burro come palha, é preciso é saber dar-lha.
Todos os caminhos vão dar à ponte, quando o rio vai de monte a monte.
Todos os caminhos vão dar a Roma.
Todos os pássaros comem trigo e quem paga é o pardal.
Tostão a tostão faz um milhão.
Tristezas não pagam dívidas.
Tudo em Novembro guardado; em casa ou arrecadado.
Tudo está bem, quando acaba em bem.
Um burro carregado de livros é um doutor.
Um dia, não são dias.
Um galo não canta no ovo.
Um homem atrapalhado, é pior do que uma mulher bêbeda.
Um mal nunca vem só.
Um olho no burro, outro no cigano.
Um olho no prato, outro no gato.
Um rico avarento, não tem amigo nem parente.
Um sabor tem cada caça, mas o porco cento alcança.
Uma água de Maio e três de Abril valem por mil.
Uma coisa pensa o Baio, outra pensa o selador.
Uma maçã por dia, dá uma vida sadia.
Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.
Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.
Uns comem os figos, a outros rebentam-lhe os lábios.
Vão os anéis mas fiquem os dedos.
Vaso ruim não quebra.
Vê-se na adversidade o que é a amizade.
Velho casado com nova, filhos até à cova.
Velho casado com nova, ou corno ou cova.
Velho e namorado, cedo enterrado.
Velhos são os trapos.
Vem a guerra, vai a guerra, fica a terra.
Vento de Ramos, vento do ano.
Verdura de Janeiro, não vai a palheiro.
Vindima molhada, pipa depressa despejada.
Vinho verde em Janeiro, é mortalha no telheiro.
Viver não custa, o que custa é saber viver.
Voz corrente muito mente.
Voz do povo, voz de Deus.
Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades.
Zurros de burro não chegam aos céus.