domingo, março 17, 2013
O Poder do"Eu Sou"
A teosofia nos ensina uma poderosa ferramenta de autotransformação espiritual, uma oração onde nós repetimos por diversas vezes a frase Eu Sou.
O objetivo central desta prática e para que nosso subconsciente se convença de que nós somos um ente superior e para revelar nossa natureza divina e o verdadeiro deus que existe dentro de nós.
Nesta conferência o professor Laércio nos explica de forma clara e simples como esse mantra Eu Sou atua em nossos corpos energéticos bem como em nossa consciência transformando nosso ser e trazendo uma nova estrutura para todos os nossos corpos espirituais.
"O Poder das Mensagens", um espaço dedicado à doutrina do Vale do Amanhecer e ao poder transformador das palavras em nossas vidas.
sábado, março 16, 2013
O LADO OCULTO E ESOTÉRICO DAS MÚSICAS DE RAUL SEIXAS - Saiba m
A proposta dessa palestra foi apresentar as músicas de Raul com letras que possuam uma grande mensagem esotérica. O professor Laércio interpretou essas músicas (violão e voz e banda) e ao mesmo tempo fazendo comentários sobre cada letra para esclarecer com profundidade o conteúdo esotérico e espiritual delas.
O professor Laércio Fonseca proferiu essa palestra musical: O Lado Oculto e Esotérico Das Músicas de Raul Seixas que foi realizada no dia 16/12/2005 no Espaço Consciência Cósmica em São Paulo. A proposta dessa palestra foi apresentar as músicas de Raul com letras que possuam uma grande mensagem esotérica. O professor Laércio interpretou essas músicas (violão e voz e banda) e ao mesmo tempo fazendo comentários sobre cada letra para esclarecer com profundidade o conteúdo esotérico e espiritual delas. É uma verdadeira aula Show para que possamos levar através da força da música nossa mensagem espiritual e nossa semente aos jovens e a todos que curtem o trabalho de Raul Seixas. Raul Seixas deixou um grande legado espiritual e esotérico em suas músicas, mas poucas pessoas atentam para essa parte de seu trabalho, ficando à mostra apenas o lado decadente das drogas. Pretendemos esclarecer e mostrar o lado bom de seu trabalho e abrir a consciência de todos que gostam de música e rock que o desejo desses pioneiros da década de 60 sempre foi o da liberdade e de encontrar novos horizontes e novos rumos pra humanidade. Vamos explorar o lado bom de Raul e também comentar seus erros, para que eles não sejam cometidos por nossos jovens e por todos nós.
O professor Laércio Fonseca proferiu essa palestra musical: O Lado Oculto e Esotérico Das Músicas de Raul Seixas que foi realizada no dia 16/12/2005 no Espaço Consciência Cósmica em São Paulo. A proposta dessa palestra foi apresentar as músicas de Raul com letras que possuam uma grande mensagem esotérica. O professor Laércio interpretou essas músicas (violão e voz e banda) e ao mesmo tempo fazendo comentários sobre cada letra para esclarecer com profundidade o conteúdo esotérico e espiritual delas. É uma verdadeira aula Show para que possamos levar através da força da música nossa mensagem espiritual e nossa semente aos jovens e a todos que curtem o trabalho de Raul Seixas. Raul Seixas deixou um grande legado espiritual e esotérico em suas músicas, mas poucas pessoas atentam para essa parte de seu trabalho, ficando à mostra apenas o lado decadente das drogas. Pretendemos esclarecer e mostrar o lado bom de seu trabalho e abrir a consciência de todos que gostam de música e rock que o desejo desses pioneiros da década de 60 sempre foi o da liberdade e de encontrar novos horizontes e novos rumos pra humanidade. Vamos explorar o lado bom de Raul e também comentar seus erros, para que eles não sejam cometidos por nossos jovens e por todos nós.
"O Poder das Mensagens", um espaço dedicado à doutrina do Vale do Amanhecer e ao poder transformador das palavras em nossas vidas.
quarta-feira, setembro 12, 2012
NECROLOGIA
Um dia, quando os
funcionários chegaram para trabalhar, encontra na portaria um cartaz enorme, no
qual estava escrito:
"Faleceu ontem a
pessoa que atrapalhava a tua vida na Empresa. Estás convidado para o velório”.
No início, todos se
entristeceram com a morte de alguém, mas depois de algum tempo, ficaram
curiosos para saber quem estava a atrapalhar tua vida e bloqueando o seu
crescimento na empresa.
A agitação era tão
grande, que foi preciso chamar os seguranças para organizar a fila do velório.
Conforme as pessoas se
iam aproximando do caixão, a excitação aumentava:
- Quem será que estava
atrapalhar o meu progresso?
- Ainda bem que esse
infeliz morreu!
Um a um, os
funcionários, agitados, aproximavam-se do caixão, olhavam pelo visor do caixão
a fim de reconhecer o defunto, engoliam em seco e saiam de cabeça cabisbaixa,
sem nada falar uns com os outros.
Ficavam no mais
absoluto silêncio, como se tivessem sido atingidos no fundo da alma e
dirigiam-se para as suas salas.
Todos, muito curiosos
mantinham-se na fila até chegar a sua vez de verificar quem estava no caixão e
que tinha atrapalhado tanto a cada um deles.
A pergunta ecoava na
mente de todos: "Quem está nesse caixão"?
No visor do caixão
havia um espelho e cada um se via a si mesmo...
Só existe uma pessoa
capaz de limitar o seu crescimento: VOCÊ MESMO!
Tu és a única pessoa
que pode fazer a revolução da tua vida. Tu és a única pessoa que pode
prejudicar a tua vida.
Tu és a única pessoa que te
podes ajudar a ti mesmo.
“A TUA VIDA NÃO MUDA QUANDO O TEU CHEFE MUDA,QUANDO A TUA
EMPRESA MUDA, QUANDO OS TEUS PAIS MUDAM, QUANDO O TEU (TUA) NAMORADO (A) MUDA”.
A TUA VIDA MUDA... QUANDO TU MUDAS! “TU ÉS O ÚNICO RESPONSÁVEL POR ELA.”
O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus
próprios pensamentos e seus atos.
A maneira como tu encaras a vida é que faz toda diferença. A tua vida muda,
quando "tu mudas".
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Motivação
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sexta-feira, agosto 10, 2012
O ZÉ Fugiu
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terça-feira, junho 26, 2012
MEMORIA SOBRE A DESCOBERTA DAS ILHAS DE PORTO SANTO E MADEIRA
The Project Gutenberg EBook of Memoria sobre a descoberta das ilhas de
Porto Santo e Madeira 1418-1419, by Emiliano Augusto de Bettencourt
This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org
Title: Memoria sobre a descoberta das ilhas de Porto Santo e Madeira 1418-1419
(Fragmento de um livro inedito)
Author: Emiliano Augusto de Bettencourt
Release Date: March 9, 2010 [EBook #31576]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK PORTO SANTO E MADEIRA ***
Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)
MEMORIA
SOBRE A DESCOBERTA
DAS
ILHAS DE PORTO SANTO E MADEIRA
1418—1419
(FRAGMENTO DE UM LIVRO INEDITO)
POR
E. A. Bettencourt
PORTO
Typographia do Commercio do Porto
RUA DA FERRARIA N.os 102 A 112
—
1875
MEMORIA SOBRE A DESCOBERTA
DAS
ILHAS DE PORTO SANTO E MADEIRA
1418—1419
(FRAGMENTO DE UM LIVRO INEDITO)
Quando o infante D. Henrique voltou de Africa foi residir em uma terra do
Algarve, situada na ponta mais desgarrada da Europa, e que parece ter sido
destinada pela natureza a servir de posto avançado á civilisação europeia.
N'esta terra, cujo senhorio el-rei havia dado a D. Henrique, fundou elle uma
villa, que se denominou do «Infante», e a qual devia servir para tracto e
refresco dos mareantes que fossem ou viessem do levante.
Sagres, no cabo de S. Vicente, pois que foi este o lugar escolhido pelo
infante para estabelecer a sua villa, era pelo occidente o terminus
natural do mundo conhecido no comêço do seculo XV, em quanto que o cabo Não, da
Africa, marcava no mar do sul o limite até onde haviam podido chegar os
navegantes europeus.
O infante desejava ultrapassar estes limites, colhera em Ceuta algumas
informações, e com essas vagas noticias principiou a mandar os seus criados a
explorar os mares do sul.{4}
D. Henrique era o quarto filho de el-rei D. João I e grão-mestre da Ordem de
Christo, dignidade que punha nas suas mãos a administração das enormes rendas
da Ordem; possuia um genio emprehendedor e era perseverante e generoso: taes
dotes juntos a tão grandes meios fizeram do infante o maior homem do começo dos
tempos modernos, heroe cujas obras aproveitaram ao mundo inteiro.
Quando, pois, o infante dava principio á serie de viagens de exploração que
determinára fazer á costa d'Africa, mandando todos os annos duas ou tres
caravellas, commandadas por alguns dos seus mais zelosos criados, com o encargo
de passarem o cabo Bojador, e irem o mais longe que podessem; succedeu que dous
fidalgos de sua casa, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, que com o
infante tambem se haviam achado no soccorro da praça de Ceuta, se lhe
offereceram para irem passar o mencionado cabo e descobrirem a terra da Guiné.
Sairam portanto mar fóra estes arrojados fidalgos, em uma pequena
embarcação, que o infante lhes fez aprestar e prover de todo o necessario; mas
decorridas que foram algumas milhas encontraram ventos de travessia, que os
arrojou para o alto mar onde correram por muito tempo á mercê de uma forte
tempestade, até que se acharam sobre as costas de uma terra desconhecida.
Zarco e Tristão sairam em terra para se abrigarem da tormenta, dando, por
tal motivo, á ilha desconhecida a denominação de Porto Santo.
Tendo Zarco e Tristão reconhecido a ilha, voltaram apressados a dar parte ao
infante, que largamente os galardoou e lhes permittiu que fossem povoar a nova
terra com muitas pessoas que para isso logo se offereceram; indo tambem n'essa
occasião, por capitão donatario da ilha, Bartholomeu Perestrello, fidalgo da
casa do infante D. João.
Chegados que foram á ilha de Porto Santo construiram suas barracas e se
acommodaram o melhor que puderam. Tinha, porém, acontecido que, entre os
animaes que Perestrello{5} levou para a ilha havia uma
coelha prenhe, que acertando de parir durante a viagem foi lançada em terra com
a sua prole. Estes coelhos, segundo asseveram quasi todos os escriptores que
escreveram d'aquellas ilhas, foram qual praga do Egypto, porque multiplicaram
muito e devastaram quasi todas as plantações que os colonos haviam feito.
Bartholomeu Perestrello desgostoso por este successo, ou talvez por não poder
habituar-se a viver isolado na ilha, embarcou-se para o reino, emquanto que
Zarco e Tristão foram em barcos construidos em Porto Santo examinar se era
alguma nova terra o traço negro que um certo nevoeiro projectava constantemente
no horisonte.
Singraram, portanto, na direcção d'aquella sombra informe e fumosa, e ao
passo que d'ella se approximavam, assim se lhes foram patenteando as serras e
os córtes abruptos de uma terra virgem, fragosa e coberta de uma espessa matta.
Zarco e Tristão descobriram assim a ilha da Madeira, e, depois de a
reconhecerem, tendo desembarcado em diversas angras e penetrado no interior,
voltaram a dar parte ao infante, que os premiou com as capitanias das duas
partes em que determinou dividir a ilha.
Azurara, Barros, Damião de Goes e ainda outros mais[1] dizem positivamente que Tristão e Teixeira se
dirigiam á Guiné ou a passar o cabo Bojador, e que foi uma tormenta que os
levou á ilha de Porto Santo; sem admittirem que taes navegantes fossem em busca
de uma ilha, cuja noticia viera de um captivo de Marrocos, como teem escripto
alguns auctores, que acreditam na lenda de Machico.
Falta, portanto, nos primeiros escriptores d'este acontecimento, base em que
se funde a ligação da descoberta da Madeira por Zarco e Tristão com a lenda de
Machico, que Antonio Galvão e Francisco Manoel de Mello referem no
«Tractado{6} dos descobrimentos antigos e modernos» e
nas «Epanaphoras de varia historia».
Na obra «The life of Prince Henry of Portugal», defende o snr. Major a
veracidade da lenda de Machico, e tanto calor toma n'esta defeza que bem mostra
quanto se deixára convencer da existencia d'aquelle acontecimento. É tal a sua
convicção que chega a persuadir-se de ter descortinado na romantica «Epanaphora
amorosa» de Mello os principaes traços de uma verdadeira noção historica;
julgando-a comprovada com o escripto de Valentim Fernandes, encontrado em
Munich, aliás muito divergente em pontos essenciaes da mesma lenda.
O snr. Major dá-nos pela seguinte fórma o extracto da lenda, que elle diz
ser conforme se acha narrada pelo possuidor da «Relação original manuscripta»:
«No reinado de Duarte III, um mancebo de boa
familia chamado Roberto Machin, teve a infelicidade de se enamorar de uma joven
dama cujos paes, possuindo bens e jerarchia muito superiores aos d'elle,
trataram com desprezo as suas pretenções. Querendo evitar suas repetidas
visitas, alcançaram do rei ordem de prisão para Roberto, a fim de n'este meio
tempo unirem sua filha a um fidalgo cuja posição mais convinha para manter a
dignidade da sua familia.
«Como a dama, de nome Anna d'Arfet ou Dorset, correspondesse aos affectos de
Machin, o mesmo foi sair elle da prisão que determinar-se a raptal-a. Com a
ajuda de um amigo que procurou introduzir-se como palafreneiro em casa de Anna,
que era em Bristol, foi a final executado este plano, e d'alli partiram em uma
embarcação que Machin já para este fim tinha preparado e equipado.
«A sua intenção era navegar para França; eis que sobrevindo-lhes um vento
nordeste os apartou d'aquella costa, e depois de andarem treze dias á mercê de
um temporal deram vista de uma ilha onde desembarcaram. Acharam-na despovoada,
mas bem provida de madeira e agua, e de excellentes condições para se
habitar.{7}
«Gosaram tres dias de tranquilla segurança, e em quanto uns exploraram o
interior do paiz, os outros examinaram de bordo as suas margens; mas na
terceira noute levantando-se uma tempestade deu com elles na Costa d'Africa. O
susto e o soffrimento por que passára a infeliz dama haviam n'este desastre
attingido as maiores proporções, e passados tres dias de completa prostração
mental terminou seus dias. Foi sepultada ao pé do altar que se erigiu em signal
de reconhecimento pela sua chegada, e, no quinto dia depois do seu
fallecimento, Machin foi tambem encontrado morto sobre a sepultura da sua
amante. Os restantes companheiros lhe abriram egual sepulchro e embarcaram-se
depois no batel do navio, e, ao chegarem á Costa d'Africa foram levados á
presença do rei de Marrocos, de quem ficaram captivos.
«Nas mesmas tristes circumstancias acharam seus companheiros que perdidos
foram no navio levados da ilha.
«Entre os seus companheiros de captiveiro havia um João de Morales, natural
de Sevilha, bom maritimo e experimentado piloto a quem fizeram a descripção da
terra que tinham descoberto. Por este tempo a 5 de março de 1416 fallecera D.
Sancho, filho mais velho do rei Fernando de Aragão, e deixára em testamento um
rico legado para que de Marrocos fossem resgatados os christãos captivos, e
entre elles havia este João de Morales, mas o navio que o trazia foi capturado
pelo navegante portuguez João Gonçalves Zarco.
«Comtudo este, por clemencia, deu a liberdade aos
infelizes captivos reservando só para si a
Morales, cuja experiencia em materia nautica julgou poder ser util a seu amo o
infante D. Henrique. Este Zarco tinha ido, como já nos disse Barros, em
companhia de Tristão Vaz Teixeira, explorar a costa occidental d'Africa, e
assaltados por uma tempestade foram dar na ilha de Porto Santo. Isto parece ter
succedido no fim de 1418 ou principio de 1419. Foi Morales que lhe communicou o
descobrimento de Machin, e partindo em um navio, com authorisação do infante e
sob a direcção de Morales, fez{8} o importante
descobrimento da ilha da Madeira, á metade da qual deu o nome de Funchal e á
outra de Machico.»
Habituados, como estamos, a respeitar a opinião do illustre sabio
britannico, não podiamos deixar de nos sentirmos profundamente magoados por uma
pungente contrariedade, quando se nos deparou a defeza de Machico, tão
habilmente desempenhada por aquelle escriptor.
Desejaramos partilhar sempre a sua opinião, seguil-a e cital-a até para
credito nosso; mas para isso era-nos mister tornarmo-nos adulador, e nós, como
portuguez, devemos ao snr. Major a consideração que deriva de um sentimento bem
mais digno que o da adulação.
Por amor, pois, da verdade e com o mais profundo respeito nós vamos, segundo
a nossa opinião, defender como primordial a descoberta das ilhas de Porto Santo
e Madeira por Zarco e Tristão, com prejuizo da pretendida descoberta de
Machico.
Principiando, pois, por mostrar a importancia que a «Epanaphora» de Mello
póde ter como documento historico, comparal-a-hemos com o escripto da collecção
de Fernandes, e com o de Antonio Galvão, citados pelo snr. Major, concluindo
por emittir a nossa humilde opinião sobre o pretendido caso.
A lenda, contada pelo ameno auctor das «Epanaphoras», não nos consta que
tenha sido relatada por nenhum escriptor do seculo XV; Azurara nada diz a tal
respeito, e crêmos que se a tivesse por verdadeira teria feito d'ella menção na
sua «Chronica de Guiné», conforme fez das descobertas de outros estrangeiros. O
manuscripto de Francisco Alcafurado, que serviu a Francisco Manuel de Mello
para compor a sua terceira «Epanaphora», e que diz ter vindo á sua mão por um
extraordinario caminho, não apparece hoje em parte alguma, nem sabemos que
algum outro escriptor tenha d'elle ou de seu auctor dado noticia. Em presença,
pois, da chronica de Azurara, ha toda a razão para duvidar da authenticidade de
um manuscripto que ninguem mais viu, pois que, tendo Azurara fallado{9} com quasi todos os descobridores, e consultado todos os
escriptos para compôr a sua «Chronica»[2], parece-nos pouco verosimil ter-lhe escapado
este escripto, e tambem o seu auctor, que se diz companheiro dos descobridores
da Madeira, e que, segundo diz o auctor das «Epanaphoras», devia viver no paço
do infante D. Henrique, ao tempo em que lá se achava tambem Azurara.[3]
É para notar que sendo a «Chronica de Guiné» escripta sob os auspicios do
infante D. Henrique, e tendo sido o manuscripto de Alcafurado, segundo diz
ainda o auctor das «Epanaphoras», offerecido ao mesmo infante, elle não fizesse
narrar na chronica um acontecimento que, a ter sido verdadeiro, tambem deveria
ser conhecido de todos os tripulantes das embarcações de Zarco, e portanto
impossivel de conservar-se em segredo. O caracter probo e verdadeiro de Azurara
não nos permitte suppôr que elle calasse a mais vedadeira relação do
acontecimento, expondo-se aos retoques e emendas de tantas testemunhas
oculares.{10}
Estas circumstancias e o facto de se não achar, em nenhum auctor coévo,
noticia de Alcafurado concorrem poderosamente para augmentar, senão confirmar,
as suspeitas que de ha muito nutrimos sobre a não existencia de tal escripto e
de seu preconisado auctor.
Mas, ainda que ponhamos de parte esta ideia, a «Epanaphora» de Mello, já
pela sua natureza evidentemente romantica, já por ser perto de dous seculos e
meio posterior ao descobrimento da Madeira, e talvez tres á epocha em que se
pretende dar por succedido o caso de Machico, está muilo longe de poder ter a
honra de ser comparada com a chronica de Azurara, ou com as Decadas de Barros;
e muito menos de poder servir para decidir o caso.
Quanto a Valentim Fernandes é preciso saber-se que o seu livro não passa de
um aggregado de varias noticias, escriptas por diversos individuos, onde a par
da lenda de Machico figura uma «Chronica», tambem manuscripta, «da descoberta e
conquista de Guiné» por Azurara, escriptos estes que, quanto ao nosso ponto, se
contradizem mutuamente.
Esta «Chronica da descoberta e conquista de Guiné» tem differente divisão e
numeração de capitulos d'aquella que foi publicada pelo illustre visconde de
Santarem, e crêmos que será a primeira chronica d'aquelle descobrimento, que
desappareceu do reino logo depois do seu auctor a ter escripto.
D'esta reunião de noticias varias e contradictorias concluimos nós que
Fernandes, sem criterio, nem ideia de legar á posteridade a lenda de Machico ou
a chronica de Azurara, reuniu no seu livro tudo quanto podesse avolumal-o ou
augmentar-lhe o valor, quer fosse absurdo quer não.
Este livro foi, portanto, colligido como objecto de mera especulação.
Ora, como não seja em um livro de especulação e de noticias contradictorias
que se devam procurar elementos para decidir uma questão de facto, é bom que
esta circumstancia não seja esquecida, tanto para que a lenda não ganhe
com{11} a nomeada do collector, como para que a
chronica de Azurara não perca, por se julgar que ella fôra alli collocada a
proposito de contradictoria.
Para que o leitor podesse fazer ideia das contradicções dos tres principaes
propagadores da lenda de Machico, Mello, Galvão e Fernandes, era-lhe mister ter
conhecimento integral da lenda escripta por Valentim Fernandes; mas o snr.
Major limita-se a indicar, no capitulo V do seu livro, algumas divergencias que
encontrou nos escriptos d'aquelles auctores, deixando o leitor sem os meios de
poder formar, sobre o caso, uma opinião fundada.
Nós, porém, tendo pela experiencia conhecido quanto importa consultar um
escripto, em que se pretende basear a veracidade de uma allegação, vamos pela
primeira vez dar á estampa a integra da referida lenda, que nos foi permittido
tirar de uma cópia authentica do livro de Valentim Fernandes, feita em 1848, e
existente na bibliotheca particular de sua magestade el-rei de Portugal.
Segue a cópia:
«Ylha de madeyra como foy prymeiramente achada e por quem E de que maneyra
foy povorada.
«Huum cavalleyro de ingraterra que avia nome machyn que foy degradado por
seu delicto de ingra terra. E determinou de se hir para espanha. E comprou huma
bartscha que he navio de 40 tonees com gavia E meteo toda sua fazenda dentro do
navio, com uma sua manceba e alguuns criados, e assi meteo cabras paraseu
comer, foy seu camynho. E em vyndo atraves das berlengas deu tal tempo nelle
que ho fez correr a balravento e foy dar comsigo aa ilha do porto sancto. E se
espantarom quando virom terra, arribaram a ella e decerom em terra abuscar agoa
e lenha que aviam mester E assy as cabras e bodes que lhes ficavam por serem
magros e mortos de fame os lançaram a pacer. E esta terra era a ylha do porto
sancto agora assi chamada.
«E elles assy estando esclarecendo o tempo virom mais{12} terra ao mar e fizerom vela e foram ver que terra era, e
arribarom a huum porto onde agora chamam Matschiquo. E pos nome ao dito porto
machyn E despois os castellanos corromperom ho vocablo e chamaromno malchico.
«Ao dito cavalleyro yngres pareçeo bem o porto e a terra deçeo nella E
mandou levar huum triquete vela para huma tenda e machados e fouces e barijs e
todo o que avia mester para comer e repousar em terra, ho qual mandou armar a
sua tenda sobre a borda da rybeyra, a qual era muy graciosa e desafogadiço de
muytos peixes e muytas aves mansas atee as tomarem com as mãos.
«Despois de repousados determinou em sy se avia algumas povorações na terra.
E tomando alguuns mantijmentos e dous homens comsigo se foy pella ribeyra açima
aos picos. E andou de pico a pico oulhando se viria alguma povoraçam ou synal
de gente. E andou la tres dias sem achar nada, mas antes achou a terra cada vez
mais aspera e fragosa d'arvoredos grandes que pareciam chegar ao çeo emtam
determinou de tornar para sua tenda e gente.
«Em vijndo o dito cavalleyro com seos dous homens por huma ladeyra para
baixo aonde já pareceo ho porto. E os criados nom vendo o navio no porto
disserom ao Senhor que lhes parecia mal e que entendiam que eram fugidos os
marinheyros com o navio. E elle esforçandoos como bõo cavalleyro dizendo que
elles nom fariam tal ruyndade, mas antes stariam tras alguma ponta, porque lhes
poderia ventar alguun vento em quanto elles andariam fora, ou cortar alguma
marra e caçariam. E os criados confrangendose muyto e agastandose enfraquecendo
das pernas que nom podiam andar. E elle os esforçou e disse, filhos porque
pasmais, e tevestes coraçam por tammanha tormenta que janda temos passados, e
se nos perderemos por esse mar buscaramos remedio para nos salvar como fazem os
outros, quanto mais que estamos em terra muyto boa e muyto graciosa e ayrosa de
muyto peixe, e muytos pombos mansos, rolas codornizes, agoas muyto
especiaes{13} em maneyra que sempre nos poderiamos
remediar. E que sabemos, se deos por ventura nos quis escapar das tormentas
para povorarmos esta terra e lhe fazermos n'ella alguum serviço.
«Leixemos o cavalleyro de como se vinha esforçando seos criados e digamos
dos marinheyros e de seu navjo. Ho mestre e marinheyros, como viram partir seu
senhor para as serras, mostrando que aviam medo delle que querria povorar
aquella terra com elles e os ter alli. Mas a verdade era que por cobijça das
riquezas que tinham na nau determinaram a fugir. E requererom a manceba que
ficava em a tenda e assi huum moço pequeno com ella se querriam hir com elles,
que elles determinavam de fugir. E ella disse que nom que nunca deos quisesse
que ouvesse de leixar seu senhor. Emtam partiram o mestre com seus marinheyros
e fizeram vela.
«Aconteceu que hindo elles assi pello mar deu tempo nelles que foram ter
acosta de berbaria e perderomse em huuns baixos. E escaparem delles para terra
os quaes os mouros cativarom e os outros morrerom.
«Leixemos cativos o mestre com alguuns marinheyros e tornemos ao cavalleyro
que ficava na ilha.
«Quando este cavalleyro yngres chegou onde tinha sua tenda armada que achou
a manceba e o paje, e de como eram fugidos os marinheyros pesoulhe muyto nomno
dando entender aa sua companhia, mas amtes os esforçava e fazia que não dava
nada por ysso dando-lhes muytas razões e esforços e assy das bondades da terra
como mantijmentos que nella tinham. E lhes dezia que bem podia nosso Senhor por
alli trazer outros navjos por acertamento que os levassem aa terra dos
christãos. E quando nom, que elle sperava com ajuda de nosso senhor ordenar e
engenhar huum navjo ou batel que os levasse por esse mar onde fosse mais seu
serviço. Sem embargo de todollos esforços nom prestou aamora da mançeba porque
de pasmo morreo. A qual foy a primeyra que enterrarom{14} nesta terra em huma jrmida que elle tinha feito aa qual
posnomem sancta cruz.
«A mançeba enterrada entremeteose com seos criados a cortar huum pao grosso
e grande de que fizerom huum batel com algumas ajudas de paos cavados com
tornos de pao. E assi calafetavam com limas de pedras. E estiverom nysso seys
meses em aquella terra. Entam matarom muyto peixe e secaramno, e muytas aves
que escalarom e secarom. E assi tomarom corchos e dragoeyros e encheromnos
dagoa E com aquelle peixe seco e aves, e assi com os barijs que ajnda tinham, e
com o traquete da tenda fizerom vela e partirom por esse mar e forom dar
comsigo em barbaria em aquella terra onde se perdera seu navio com outros seus
criados, e alli sayrom em terra, e logo os cativarom os mouros. E elles andando
assi vio os outros do seu navio que eram cativos e arremeteo a elles para os
matar. Quando os mouros aquello virom apartaromnos e perguntaromlhe a causa da
sua peleja, pello qual estavom espantados por elles serem todos christãos, ho
qual lhes foy todo contado. E logo o alcayde dy ho escreveo a elrey de fez seu
senhor todo ho passado, assi das ilhas que acharom como da causa acontecida
deste cavalleyro yngres. E logo por elrey de fez foy mandado de o levar amte
sy. E elle ho contou todo por seu trusymam do que lhe fora acontecido.
«E elrey de fez veendo que se nom podia aproveitar de taes ylhas e terras
mandou o cavalleyro a elrei dom Ioham de castella, com o qual elle entam tinha
bõas pazes e amizades, ho qual despois de sabido de todo acontecido. Assy por
ocupações como por guerra que tinha naquelle tempo com elrey de portugal, em
maneyra que passouho feyto assy em delonga, que morreo o cavalleyro yngres e
nom ouve que mais sobre ysso acudisse. E nom embargante o gaado que ficou na
ilha de porto sancto como já dissemos multipricou em tanta quantidade que a
ilha era toda chea.
«Os castellanos em conquistando as canarias vierom ter a esta ylha do porto
sancto com tempo e acharom nella as cabras{15} de que
fezerom carnaje e assi tomarom agoa e sangue de dragam que tyram das arvores
dragoeyras. E dy avante quando hyam sobre os canareos sempre vinham aa dita
ilha fazer carnajem.
«Dalli poucos annos andando Ioham gonclz zarco darmada em huma barcha contra
os castellanos veo ter ao cabo de sam vicente sem aver tomado algumas dias
nenhuma preza nem sabendo por onde hyriom fazer preza. Emtam disse huum
castellão que com elle andava. Senhor se quizeres tomar boa preza vamos onde
vos eu disser que he a ylha de Porto Sancto, onde os conquistadores de Canaria
vão fazer sua carnajem e tomar sua agoa, por quanto como elles alli som saemse
todos em terra e tomalloemos os navios e despois cativaremos a elles em terra.
«E posto que ouvesse grande differença nelles no navjo todavia forom la. E
quando chegarom o porto sancto, avia ja tres dias que os castellanos eram
partidos, e acharom as fogueyras feitas em terra e assi as tripas da carnajem e
alguum gado morto. E fizeram tambem sua carnajem e tomarom agoa e lenha e
folgarom alguuns dias e olharom a terra muy bem. E determinou logo o capitam de
viir povorar a dita terra querendo ho Iffante dom anrrique seu senhor. E logo
ho foy a buscar ao cabo de sam vicente onde estava o Iffante em sagres e lhe
contou tudo que vira e os desejos que tinha de povorar aquella terra com sua
ajuda, com ho qual o Iffante foy muyto ledo e contente. E escreveu logo a elrey
seu padre que estava em santarem pedindolhe de merçee as ditas ilhas para as
povorar E elrey lhes outorgou.»
Da comparação, pois, d'esta narrativa com as de Mello e Galvão resultam
divergencias essenciaes, das quaes vamos notar as mais flagrantes.
A narração de Fernandes differe logo ao principio da dos outros auctores,
declarando que Machico saira de Inglaterra degredado por seu delicto e não
fugido com uma dama nobre.
A dama que em Mello e Galvão é parte importante, no{16} escripto de Fernandes é objecto tão secundario que, em
vez de uma senhora nobre, e muito principalmente mais nobre que Machico,
poderia ser uma manceba trivial, que, como diz a lenda, por cousa
alguma deixaria seu senhor.
Pois uma dama ingleza nobre, chamaria nunca seu senhor a um
individuo de estirpe menos elevada?
Mello e Galvão dizem que Machico fôra directamente á Madeira, em quanto que
Fernandes o conduz primeiro a Porto Santo; e, quanto aos carneiros que
Fernandes diz terem ficado n'esta ilha a pascer, se elles não fossem tambem
legendarios teriam multiplicado tanto, que a sua natural voracidade não
deixaria em que os coelhos, levados mais tarde á mesma ilha por Perestrello,
podessem exercer a devastação que referem quasi todos os historiadores
d'aquellas ilhas, até ao proprio snr. Major.
Fernandes não deu cabo do seu Machico na ilha da Madeira. N'este ponto
Galvão e Fernandes estão de accordo, mas em contraposição com Mello que, para
crear a entidade Morales, fez morrer Machico na Madeira, 5 dias depois da morte
de Anna de Arfet. Ainda assim Fernandes diz «e com o traquete da tenda fizeram
vela e partiram»; e Galvão diz «foi dar á Costa d'Africa sem velas nem remos.»
E é com taes escriptos que se pretende destruir as concordes asserções de
Azurara e de Barros, o primeiro escriptor coevo do descobrimento da Madeira e
ambos de uma seriedade e authoridade reconhecida pelos principaes escriptores
modernos; e com relação ao primeiro dos quaes, o visconde de Santarem, por mais
de uma vez, dá publico e honroso testemunho na introducção e notas da «Chronica
da Descoberta e Conquista de Guiné».
Como poderá restabelecer-se a verdade de tal noção historica sobre
documentos tão controversos?
Quanto a nós, parece-nos que bem devêra ficar, a parte mais notavel da
lenda, como diz o snr. Major no seu capitulo V, considerada como mytho
e o addicionamento como invenção,{17} se o
mesmo senhor nos não tivesse dado como, sendo um e o mesmo documento, aquelle
que Mello diz ter-lhe vindo á mão por um extraordinario caminho, e o
escripto da familia de Zarco, a que Barros tinha alludido um seculo antes. Mas
quem pôde assegurar ao snr. Major que estes dous documentos fossem um e o mesmo
escripto, se ninguem até hoje os comparou por não terem sido encontrados em
parte alguma?
O snr. Major notando, no capitulo V da sua já mencionada obra, ter
predominado em perto de tres seculos, a opinião de haverem sido as ilhas da
Madeira e Porto Santo descobertas em 1418 e 1420; attribue a Barros o erro
d'essa supposição, dizendo que este escriptor excedera a authoridade do
chronista Azurara, de quem confessa ter tirado o processo do descobrimento.
Mas isto não é assim, perdoe-nos o snr. Major: ha aqui um equivoco. O
processo do descobrimento que Barros diz ter tirado de Azurara é o da Guiné e
não o da Madeira; mas além d'isto, tanto para uma como para outra relação, do
que Barros se serviu foi dos manuscriptos de Azurara e de Affonso de Cerveira[4], e não da chronica
propriamente dita, porque essa ao tempo já tinha desapparecido do reino[5]. É, portanto, infundada a
accusação de que Barros excedera a authoridade de Azurara.{18}
Não sabemos como é que o snr. Major, dizendo ter em seu poder os meios de
restabelecer a verdade da noção historica de Machico, e julgando-a comprovada
pela relação de Valentim Fernandes, nos diz no seu livro uma quarta e nova
versão da mesma lenda, á qual chama extracto da que foi narrada pelo possuidor
da relação original manuscripta. O snr. Major dando-nos esta quarta
versão, não nos diz de quem ella seja, quem a viu, nem onde existe. Seja,
porém, de quem fôr, nós entendemos que as notaveis divergencias de todas ellas
são por si só o bastante argumento contra o objecto da lenda.
Seguindo a narração do snr. Major encontramos que, entre os christãos
resgatados do captiveiro de Marrocos, com o legado que o infante D. Sancho de
Aragão deixou em 1416, viera um hespanhol João de Morales que, sendo capturado
pelo navegante portuguez João Gonçalves Zarco, communicára a este a descoberta
de Machico.
N'esta parte a relação de Fernandes, como o leitor já deve ter observado, é
muito differente, mas não menos inverosimil.
Foi preciso, ao auctor da relação original manuscripta, forjar esta
captura para justificar o facto de ter sido o descobrimento da Madeira feito
por portuguezes, porque, aliás, elle deveria ter sido emprehendido pelos
compatriotas de Morales. Comtudo esqueceu ao auctor a falta de motivo plausivel
para que os portuguezes podessem n'aquella epocha, sem quebra de tractados,
capturar um navio hespanhol, de Castella ou Aragão, e fazer presa da sua
tripulação; pois que com Aragão estava Portugal em paz, e comquanto não
houvesse um tractado devidamente assentado com Castella, havia comtudo treguas
juradas desde 1411, que duraram até depois da descoberta da Madeira (1420), e
as quaes foram convertidas em tractado de amisade logo que el-rei de Castella
completou 14 annos.
De todos os reis da peninsula hispanica, só o mouro de Granada deixou de
obter de el-rei D. João I resposta satisfactoria quando, constando-lhes os
grandes armamentos que antes{19} de 1415 se fizeram em
Portugal sem que elles soubessem para que, vieram pedir ratificação dos
tractados de paz. Por essa occasião ficámos nós devendo a um honrado hespanhol
que era corregedor de Carçola, um elogio proferido por esta authoridade, no
conselho que a regente de Castella, a proposito, entendeu mandar reunir em
Palencia, elogio que La Clede relata pela seguinte fórma:
«Que razão ha para consternar-nos com as preparações dos portuguezes? Porque
quereis obrigar-nos a romper a paz só por meras suspeitas? Este procedimento
seria a maior vergonha para o nosso monarcha. Se este principe verdadeiro,
grande e magnanimo jurou solemnemente a paz comnosco, se nos offereceu soccorro
contra os mouros, se se offereceu a vir em pessoa capitanear os nossos
exercitos, que razão ha para irmos hoje, sem maior fundamento, tomar armas
contra elle? Não poderão os portuguezes fazer movimento que não seja para nos
offender? Estão porventura obrigados a descobrir-nos seus segredos? E quem é
que os descobre, maiormente quando os segredos envolvem alguma empreza grande?
Sem razão, pois, nos consternamos, e maior injustiça é querer intentar contra
elles, só porque nos occultam seus designios. Quando os formassem contra nós,
bem podeis estar certos, eu os conheço muito bem, não deixariam de nos
advertir, como generosos e sinceros que são. O condestavel D. Nuno Alvares
Pereira, que trata com el-rei, seu senhor, em apromptar o armamento que hoje é
nosso terror, e objecto d'este conselho, quando quiz entrar com a mão alçada em
nossas terras, primeiro mandou aviso aos nossos capitães, que estavam na
fronteira. Se elle em tempo de guerra declarada obrou com tanta generosidade,
quando o odio e o interesse requeriam, e até tornavam necessario darem de
subito contra nós, porque razão seria elle menos generoso hoje que as duas
nações vivem em paz entre si, e el-rei de Portugal dá todas as mostras de
querer mais do que nunca conservar comnosco estreita amisade?..»
Não é preciso mais!{20}
Para que hoje possamos fazer ideia do conceito em que então era tido em
Hespanha o genio cavalleiroso dos portuguezes basta o que fica transcripto sob
a authoridade de La Clede.
Por muito pouco que então se respeitassem os tractados entre os reis da
peninsula, não é crivel que os christãos, resgatados ao captiveiro dos infieis
de uma nação inimiga, corressem o risco de virem a ficar captivos dos christãos
de uma nação amiga.
Em taes condições parece-nos, pois, evidente que a captura de Morales era um
impossivel.
O nome de Machico dado a uma localidade da ilha da Madeira tambem, a nosso
ver, não póde servir de argumento em favor da estada de inglezes n'aquella
ilha, antes de lá terem chegado os portugueses. Notaremos em primeiro logar,
sem comtudo querermos fazer d'esta a principal impugnação, que o nome de
Machico tanto póde ser corrupção de Machin como diminutivo de macho. A indole
vulgar do idioma portuguez não se oppõe a esta supposição. Azurara auxilia-a
quando na sua chronica lhe chama Machito[6], e o proprio Mello quando o nomeia Machino[7].
Pois assim como na Africa se ficou denominando «Angra de Cavallos», ao ponto
onde em 1435 os descobridores lançaram dois cavallos[8], para n'elles irem explorar o interior do
paiz; não poderia tambem o nome de Machico, machito, ou machino ter sido dado
áquella localidade da Madeira por um igual motivo?{21}
Concluindo, diremos que se alguma das lendas fosse de data anterior á da
descoberta por Zarco e Tristão, poderia então colher o argumento do snr. Major,
que diz terem estes (os portuguezes) reconhecido que Machico os precedera,
pondo o seu nome a uma das localidades da ilha; porém, sendo a mais antiga de
todas as lendas quasi um seculo posterior á descoberta da Madeira por Zarco e
Tristão, o que d'aqui clara e unicamente se póde concluir é que a lenda fôra
inventada ad hoc, depois de ter sido posto áquella localidade o nome
de Machico; e é por isso que todas ellas concordam, mas unicamente, no nome e
local de Machico.
O contrario d'isto é que será preciso provar, para se assentar que tivessem
sido inglezes e não portuguezes os primeiros descobridores da ilha da Madeira.
Ha ainda um ponto que é preciso não deixar em vigor.
Como poderá entender-se que, se as ilhas de Porto Santo e Madeira tivessem
sido descobertas entre os annos de 1317 e 1351, como diz o snr. Major, e sendo
esse descobrimento tambem portuguez; como poderá entender-se, dizemos, que de
tal descobrimento nos não ficasse noção alguma, escripta ou tradiccional; indo,
pelo contrario, as indicações d'essas ilhas parar só ás cartas estrangeiras?
O alvoroço que causou em Portugal a noticia da descoberta d'essas terras em
1419, por Zarco e Tristão, e o afan com que muitas pessoas de todas as classes
correram logo a povoar as novas ilhas, protestam bem alto contra a supposição
de já terem sido estas mesmas terras descobertas por portuguezes ou
estrangeiros ao serviço de Portugal.
Nós entendemos que as indicações de terras e ilhas oceanicas, bem ou mal
lançadas em cartas de epochas anteriores ao descobrimento d'essas terras, não
passam de addicionamentos feitos posteriormente, sem intenção de prejudicar a
gloria de seus verdadeiros descobridores, e tão sómente com o fim de
augmentarem os conhecimentos geographicos, com a{22}
indicação das terras que se descobriram depois da construcção das referidas
cartas.
Todas as pessoas que estiverem acostumadas a lidar com cartas geographicas,
sabem muito bem que estes addicionamentos são tão communs, que ainda hoje se
praticam, sem ideia de falsificação; que no XV seculo, epocha das principaes
descobertas, carta alguma poderia andar em dia com o rapido progresso d'estes
feitos, e que por consequencia estes addicionamentos eram então uma necessidade
tanto mais instante na occasião, quanto mais prejudicial para a historia;
porque, sendo todas essas cartas manuscriptas, podiam n'ellas admittir-se
muitas inserções nos espaços claros, sem deixarem vestigios de terem sido
retocadas ou accrescentadas.
Os nomes, com que se designam na carta catalan de 1351, citada pelo snr.
Major, as differentes ilhas do grupo da Madeira, são a mais evidente prova de
não terem taes ilhas sido incluidas n'aquella carta antes de 1420, pois que,
sendo opinião geral, tambem partilhada pelo snr. Major, que as ilhas da Madeira
foram povoadas depois da descoberta de Zarco (1420), claro está que a
denominação de Deserta, dada na referida carta a uma das ilhas, só
poderia ter sido posta depois das outras ilhas se acharem povoadas, pois que
antes, todas ellas eram desertas, e uma tal designação não poderia aproveitar
só áquella.{23}
[1] Azurara: C. da D. e C.
de Guiné, cap. 83—Barros: D. 1.ª, l, 1.º, cap. 2.º e 3.º—D. de Goes: C. do P.
D. Joam, cap. VIII—Andrade: C. de el-rei D. João P. 1.ª e 3.ª, cap. XCVII—C.
Lusitano: V. do infante D. Henrique, l. 2.º
[2] «Azurara
C. da D. e C. de Guiné. Capitulo XXX. Nota (1) do V. de Santarem. Recommendamos
á attençâo do leitor esta importante passagem, pela qual se mostra quanto esta
chronica é preciosa pela sua authenticidade, visto que a dita passagem nos
revela que Azurara não só consultára os documentos escriptos, mas até os mesmos
descobridores, testemunhas oculares d'estes factos, visto que elle confessa não
poder fallar da particularidade de que tracta, por Nuno Tristão ser já finado.»
[3] «Azurara C. da D. e C.
de Guiné. Introducção do V. de Santarem pag. XI. A sua fidelidade como
historiador é incontestavel. O seu escrupulo e amor da verdade era tal que
preferia antes deixar a relação de alguns acontecimentos imperfeita, do que
completal-a quando não podia obter já as noticias exactas dos que os tinham
presenceado. A sua authoridade como escriptor contemporaneo é immensa, pois
Azurara viveu com o principe immortal que elle idolatrava, conheceu
pessoalmente os principaes e intrepidos descobridores, os quaes pela maior
parte eram criados do infante, e educados scientificamente debaixo de seus
auspicios.»
[4] Barros: D. 1.ª, liv.
2.º, cap. 1.º: «E estas que elle escreveo (Azurara) d'este descobrimento do
tempo do Infante dõ Henrique (segundo elle diz já as recebeo de hum Affonso de
Çerveira que foy o primeiro que as pos em ordem: do qual Affonso de Çerveira
nós achamos alguas Cartas escriptas em Beni, estando elle ali feiturisando por
parte del Rey dom Affonso. E posto que tudo, ou a maior parte do que te qui
escrevemos seja tirado da escriptura de Gomezyanes, & assi deste Affonso de
Çerveira: não foi pequeno o trabalho que tivemos em ajuntar cousas derramadas,
& por papeis rotos, & fora da ordem que elle Gomezeanes leuou no
processo deste descobrimento.»
[5] Azurara: C. da D. e C.
de Guiné, Introducção do V. de Santarem—Barros: Introducção ás D. da Asia.
[6] Azurara, C. do D. e C.
de Guiné. Cap, LXXXIII, pag. 388.
[7] Francisco Manoel de
Mello. «Epanaphora Amorosa», pag. 338.
[8] Azurara. C. da D. e C.
de Guiné. Cap. IX.
D. de Goes. Ch. do P. D. João. Cap. VIII.
Barros. D. 1.ª Liv. 1.º Cap. V.
End of the Project Gutenberg EBook of Memoria sobre a descoberta das ilhasde Porto Santo e Madeira 1418-1419, by Emiliano Augusto de Bettencourt*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK PORTO SANTO E MADEIRA ******** This file should be named 31576-h.htm or 31576-h.zip *****This and all associated files of various formats will be found in:http://www.gutenberg.org/3/1/5/7/31576/Produced by Pedro Saborano (produced from scanned imagesof public domain material from Google Book Search)Updated editions will replace the previous one--the old editionswill be renamed.Creating the works from public domain print editions means that noone owns a United States copyright in these works, so the Foundation(and you!) can copy and distribute it in the United States withoutpermission and without paying copyright royalties. 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The Foundation's EIN or federal tax identificationnumber is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted athttp://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project GutenbergLiterary Archive Foundation are tax deductible to the full extentpermitted by U.S. federal laws and your state's laws.The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scatteredthroughout numerous locations. Its business office is located at809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, emailbusiness@pglaf.org. Email contact links and up to date contactinformation can be found at the Foundation's web site and officialpage at http://pglaf.orgFor additional contact information:Dr. Gregory B. NewbyChief Executive and Directorgbnewby@pglaf.orgSection 4. Information about Donations to the Project GutenbergLiterary Archive FoundationProject Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without widespread public support and donations to carry out its mission ofincreasing the number of public domain and licensed works that can befreely distributed in machine readable form accessible by the widestarray of equipment including outdated equipment. Many small donations($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exemptstatus with the IRS.The Foundation is committed to complying with the laws regulatingcharities and charitable donations in all 50 states of the UnitedStates. Compliance requirements are not uniform and it takes aconsiderable effort, much paperwork and many fees to meet and keep upwith these requirements. We do not solicit donations in locationswhere we have not received written confirmation of compliance. ToSEND DONATIONS or determine the status of compliance for anyparticular state visit http://pglaf.orgWhile we cannot and do not solicit contributions from states where wehave not met the solicitation requirements, we know of no prohibitionagainst accepting unsolicited donations from donors in such states whoapproach us with offers to donate.International donations are gratefully accepted, but we cannot makeany statements concerning tax treatment of donations received fromoutside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.Please check the Project Gutenberg Web pages for current donationmethods and addresses. Donations are accepted in a number of otherways including checks, online payments and credit card donations.To donate, please visit: http://pglaf.org/donateSection 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronicworks.Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tmconcept of a library of electronic works that could be freely sharedwith anyone. For thirty years, he produced and distributed ProjectGutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printededitions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarilykeep eBooks in compliance with any particular paper edition.Most people start at our Web site which has the main PG search facility:This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,including how to make donations to the Project Gutenberg LiteraryArchive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how tosubscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
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