quinta-feira, agosto 18, 2016

A História de Manoel Truncado


Há uns dez anos atrás, vivia em uma cidade de Goiás, bem próxima da Capital do Estado um cidadão chamado Manoel Truncado.
Ele era casado com uma mulher pacata e jovem chamada Maria.
O casal tinha três filhos: José o caçula, Marília e Josefa, duas mocinhas.
Manoel Truncado estava com mais de 40 anos e havia lutado muito para sobreviver com sua família. Seu pai fora um fazendeiro no interior de Goiás e Manoel crescera na dura vida de peão. Apesar das terras serem boas, o pai de Manoel Truncado nunca soubera tirar melhor proveito delas e com isso a vida para eles sempre fora de luta e sofrimentos.
Um dia o pai de Manoel acabou por perder a fazenda e eles tiveram que se mudar para aquela cidade. Os velhos logo morreram e Manoel teve que se ajustar a uma vida para a qual não fora preparado. Trabalhou aqui e ali mas não conseguiu se firmar em lugar algum.
Um dia ele conheceu Maria, uma jovem bonita e simples que trabalhava ara ajudar os pais. Os dois se amaram e logo se casaram sem muitos planos para o futuro. As pessoas acostumadas com a pobreza não olham muito à frente e resolvem seus problemas com certa facilidade. Assim fizeram Manoel e Maria e o casal logo ganhou uma filhinha.
No primeiro ano de casado Manoel procurou se firmar no trabalho árduo de carroceiro. O casal morava numa casinha construída no fundo do terreno, deixando a frente toda livre. Manoel mantinha uma cocheira onde guardava a carroça e seus dois animais. Nas tardes quentes e de vento parado, o cheiro do estrume invadia a pequena residência, mas eles já estavam tão acostumados que nem o sentiam. Manoel Truncado gostava de acariciar o corpinho tenro de Josefa, deitada numa bacia forrada de panos.
Depois vieram Marília e por último José. A vida ficou tão apertada como a casinha em que moravam. Manoel começou a freqüentar com mais assiduidade o botequim da beira da estrada e a descuidar de seus negócios.
Logo começou a se manifestar nele um gênio arrogante e agressivo, que atemorizava os vizinhos e deixava as crianças com os olhos arregalados de medo.
Enquanto isso, Maria sempre quieta e acostumada ao trabalho duro, se resignava lavando roupa para ganhar algum dinheiro.
Manoel começou a se ausentar de casa e chegava a passar noites fora. Nos dias que se seguiam essas ausências, ele costumava chegar na carroça com os cavalos meio estropiados e os largava no pátio. Resmungava qualquer coisa e se deitava em pleno dia de roupa e tudo.
Maria desatrelava os cavalos com auxílio de José e das meninas e, a casa ficava quieta ouvindo-se apenas os roncos surdos de Manoel. Quem mais sofria com isso era o pequeno José. Ele já estava no primeiro ano do grupo escolar e sua inteligência viva, procurava explicações das coisas que a escola não lhe ensinava. No princípio Manoel procurava ajuda-lo em suas lições e Zezinho adorava fazer perguntas. Mas, depois que Manoel começou a beber e se ausentar, ele ficava horas e horas manuseando seus cadernos, na espera que Manoel o ajudasse.
E assim a situação foi piorando a ponto de se tornar insustentável. Começou a faltar a comida e as discussões violentas se processavam, sem mais nem menos. Maria que habitualmente mal tinha tempo de chegar até a cerca da casa para falar com a vizinha, começou a sair em busca de auxílio. As crianças ficavam em casa e deixaram a escola.
Maria acostumada a viver sempre na vida dura de casa, começou a se embaraçar na vida fora de casa. Fez as primeiras dívidas e das dívidas passou aos favores ilícitos. Em pouco tempo se separou de Manoel Truncado e se prostituiu por completo. Um dia Manoel Truncado descobriu que estava só com seus cavalos estropiados. Maria o abandonara sem deixar endereço, levando consigo as crianças.
No princípio Manoel pouco se importou e, juntando o pouco que restava de sua vida material se lançou nas aventuras baixas da periferia da cidade, até que uma ocasião saudoso da família, decidiu sair a sua procura.
Sua busca foi infrutífera, até que ele encontrou a morte num desses tristes episódios que acontecem na calada da noite. Nos seus últimos tempos na Terra, ele começara a atribuir toda sua desdita à esposa que o abandonara.
Seus sete dias na Pedra Branca foram de intensa agonia. Ele não conseguiu dominar seus desejos de vingança, fomentados pela sua mente desvairada.
Ao se ver livre encaminhou-se como relâmpago em direção à família.
Os Mentores Espirituais ficaram temerosos do que podia acontecer à já tão sofrida família e o desviaram de rumo. Cheio de rancor e agressividade, Manoel Truncado acabou por ser atraído pelos Bandidos do Espaço (1) e foi vendido a uma Falange de um Terreiro (2).
Essa Falange pertencia ao reino do Exú Tranca Rua, e Manoel Truncado passou a sofrer nas garras dos Exús tarimbados do Terreiro. Ele agora era um prisioneiro da Lei Negra.
A Lei Negra é uma espécie de máfia do Mundo Invisível e como sua similar na Terra física, ela escraviza seus membros, quase sem possibilidades de libertação.
Suas Falanges são alimentadas e crescem a custa dos Espíritos nômades e sem protetores. E isso acontece por opção do próprio Espírito com seu livre arbítrio.
Sempre que um Espírito termina seu estágio na Pedra Branca, onde ele tem a oportunidade de conhecer a verdade sobre si mesmo, seus Mentores dão-lhe toda a assistência e lhe mostram o caminho. Mas a decisão é sua e a chance permanece até o último instante. Se ele toma a decisão errada acaba por se tornar vítima da Lei Negra.
Existem uns Espíritos no submundo invisível que se chamam Exús Caçadores (3). Eles ficam a espreita e aguardam as decisões dos Espíritos recém desencarnados. Assim que os Mentores desistem eles entram em ação.
Aproximam-se dos Espíritos, seduzem e os levam às suas Cavernas (4). Lá eles são submetidos a todas as sevícias e são treinados nos costumes, até se tornarem Exús.
Manoel Truncado conheceu então o que era realmente sofrer.
Os anos na Terra foram se passando e ele foi adquirindo tarimba. Seu gênio agressivo o ajudou de tal maneira que ele logo começou a se destacar em meio às tenebrosas tarefas. Em pouco tempo ele adquiriu o direito de se chamar Exú Tranca Rua, nome do titular da Falange e passou a ser temido pelos mais ferozes Espíritos.
Aos poucos ele foi formando um grupo de adeptos e estabeleceu seu reino. Com sua esperteza ele fez um convênio com o Exú Tenório. Esse Espírito é um especialista em hipnose magnética, e isso lhe dá uma força terrível no submundo etérico. A hipnose se presta muito nas macumbas e o novo Exú Tranca Rua, ex-Manoel Truncado, se aproveitou disso.
Estávamos então em 1959 e um fato inteiramente oposto aconteceu nas imediações da Caverna de Tranca Rua. Nessa data mudaram para o local chamado Serra do Ouro, o grupo de Tia Neiva e formara-se assim a primeira Comunidade da Corrente Indiana do Espaço (UESB). E o tempo continuava a correr na ampulheta da vida.
Certo dia Truncado, agora chamado Tranca Rua, estava sentado no seu trono quando ouviu alguém praguejando com violência. Sabia por experiência que se tratava de algum novato recém trazido pelos Exús Caçadores. Muniu-se do seu chicote magnético e se encaminhou para o local do barulho. Lembrava-se de como fora tratado quando chegara, e seu maior prazer era aplicar pessoalmente a correção nos novatos. Ele tinha um jeito especial de chicoteá-los até convence-los.
O Espírito estava seguro pelos Caçadores e Truncado desfechou a primeira chibatada. A vítima urrou de dor e ódio e seus olhos lançavam chispas de ira impotente. Truncado ia dar a segunda chibatada, quando seu braço estancou no ar como se tivesse batido num rochedo invisível. O Espírito que estava chicoteando era do seu filho José!
A cena terrível ficou paralisada num momento de agonia. Os dois Espíritos, pai e filho, se fitavam com horror e espanto. Subitamente Truncado achou a voz e gritou em desespero: “Zezinho meu filho! Você aqui?! Não, não! Não o quero aqui! Levem-no daqui!”.
Passado o primeiro momento de surpresa os Caçadores largaram Zezinho e começaram a zombar da fraqueza de Truncado, espezinhando-o pela atitude tão diferente dos seus hábitos.
Zezinho porém aproveitou o descuido de todos e num gesto brutal e enérgico, arrebatou o chicote da mão de Truncado e passou a chicoteá-lo com ódio arrebatador!
Truncado não se defendia e Zezinho o chicoteou até ele cair sem forças. Enquanto ele batia com o terrível chicote magnético, vociferava com ódio: “Tome miserável, pelo mal que nos causou! Minha mãe se prostituiu por sua causa seu canalha! Ela foi obrigada a isso para dar de comer a mim e as minhas irmãs, suas filhas! Elas agora vão para o mesmo caminho que minha mãe, a prostituição! Tudo por sua culpa seu miserável! Mas eu disse que um dia eu o encontraria, e agora o encontrei!”
O tempo continuou a correr na ampulheta da vida.
Zezinho agora era um terrível Tranca Rua, mais feroz que seu pai.
Truncado desmoralizado no próprio reino, mas não querendo se afastar de Zezinho, tornou-se um nômade do submundo dos Exús. Cheio de ira e confuso com a cilada que a vida lhe preparara, redobrou as atividades maléficas sem cautela nem medidas. Suas estripulias puseram em sobressalto toda a região entre Anápolis e Alexânia, durante longo tempo.
Nessa época aconteceram desastres incríveis. Carros perdiam a direção sem causa aparente, e a estrada começou a ter cruzes fincadas de pessoas que desencarnavam nesses desastres. Crimes aconteciam nos sítios vizinhos da rodovia e, o consumo da cachaça aumentou nos botequins de beira de estrada.
A atmosfera da região começou a modificar-se visivelmente. Os macumbeiros aumentaram de número e as doenças tétricas varavam as noites nas várzeas e encruzilhadas.
Na Comunidade da UESB, Tia Neiva recebia as lições dos Mundos Encantados dos Himalaias, e os Médiuns se desdobravam no Serviço do Cristo Jesus.
Um dia Neiva recebeu a notícia de que estava para chegar um circo que se instalaria nas imediações da UESB. Mas não se tratava de um circo comum, desses que a gente está habituado a ver, tratava-se de um circo etérico!
De fato o Mundo Invisível da região estava alvoroçado. O circo chegou com estardalhaço, com seus palhaços, seus acrobatas e seus carros coloridos. O palhaço principal chamava-se “Remendão”.
Os Espíritos desencarnados afluíram para o circo, em massa. Depois disso desapareciam da região…
Tranca Rua-Manoel Truncado também não resistiu e foi ver o circo. Quando deu por si estava capturado pela Falange dos Centuriões! Ele urrou e ameaçou mas de nada lhe adiantou. Levado para a UESB foi sendo doutrinado e acabou por conversar longamente com Tia Neiva. Ela na sua proverbial paciência foi mostrando seu quadro espiritual e ele ali ficou. A fagulha de ódio de seus olhos foi sendo substituída pela luz baça do arrependimento. Às vezes o seu gênio rancoroso o dominava e ele dava trabalho aos Médiuns da UESB.
Por fim os Mentores, com o auxílio de Neiva, conseguiram encaminha-lo para o Canal Vermelho (5). Lá ele foi atraído para um lugar chamado Umatã, mudou sua roupagem de Exú e sua maior preocupação continuou sendo seu filho Zezinho. Na Terra, na Caverna do antigo Tranca Rua-Truncado, um outro rei impera no seu reinado de ódio, o Tranca Rua Ex-Zezinho. Sua ferocidade é maior do que era a de seu pai. O chicote magnético que fora usado pelo seu pai continuava a sibilar nas costas de outras vítimas, outros Espíritos nômades apanhados pelos Exús Caçadores.
Naquele tempo Tia Neiva sentia certa frustração no Canal Vermelho.
Na verdade, para um Espírito que conserva a consciência, a mesma consciência nos vários Planos em que penetra, a paisagem do Canal Vermelho assusta um pouco no começo.
Apesar de bonito, com seus enormes jardins, suas pontes, seus belos edifícios, sua vida complexa, sua luz cambiante de tons lilás e sua simetria, seu conjunto dificulta a sintonia. É como uma cidade criada artificialmente e cheia de truques mágicos.
Essa construção do Plano Etérico se destina a adaptação de Espíritos arraigados a formas obsessivas de idéias. Ele estabelece um clima de transição entre a concepção que alimentaram na Terra e a realidade do Mundo Invisível, da outra etapa da estrada da vida.
Tia Neiva vai com freqüência ao Canal Vermelho em sua Missão. Nesse dia enquanto aguardava a presença de seus amigos espirituais, ela observava com curiosidade as atividades em torno dela. De onde se achava via o enorme letreiro de Umatã que parecia mudar constantemente. Às vezes ela lia a palavra “Umbanda” e outras parecia que ali estava escrito “Candomblé”. Ficou a pensar no assunto até que decifrou o enigma. Tratava-se de uma forma adequada para fazer certos Espíritos que chegavam se “sentirem em casa”.
Não muito distante havia uma espécie de Templo, com letreiro onde se lia “Igreja Presbiteriana” e, pouco além havia outro Templo com aspectos nitidamente católicos.
Dessa forma os Espíritos desencarnados encontram um ambiente similar do que tiveram na Terra. Só que a realidade é bem diferente. Seja em termos Candomblé, de Umbanda, de Catolicismo, de Protestantismo ou de qualquer outra Doutrina, a direção é dos Espíritos Missionários que mostram lentamente a esses Espíritos, sua sobrevivência depois da morte terrena.
Nessa madrugada ela se encontrou com Manoel Truncado. Ele se lembrou imediatamente dela e sua primeira manifestação foi em torno de seu filho Zezinho e sua família. Neiva notou que ele ainda pensa muito em termos do Exú que foi na Terra. Embora tenha modificado sua roupagem, ele vai ao Templo Umatã como ia aos terreiros da Terra. Ela tem uma pena imensa desse Espírito e o ajuda sempre que pode.
Eram quase cinco horas da manhã quando ela voltou para a Terra. Preocupada com a promessa feita a Manoel Truncado ela procurou ver Zezinho. Mas não conseguia vê-lo com sua roupagem de Exú; a única coisa que conseguiu captar em sua Visão Espiritual, foi a figura de um menino de sete anos, esperando o pai para lhe ensinar a lição da escola…
Com carinho,
A Mãe em Cristo.
Tia Neiva

Notas do Texto
Caro leitor:
Para a Doutrina do Amanhecer o Exú é conhecido como um Sofredor, um Espírito desencarnado, que continua ativo no Plano Invisível da Terra.
Ensina-nos nossa Clarividente Neiva que se torna Exú, habitualmente, o homem de personalidade ativa, orgulho intelectual e que seja demasiado apegado às coisas da sua alma, da vida transitória. Seguindo a Doutrina do Mestre Jesus ele merece todo nosso amor e tolerância.
Isso não significa, necessariamente, que precisemos de seus serviços ou nos subordinemos a eles. Os Exús têm seus reinados nas sombras etéricas e agem como todas as forças destrutivas; não criam mas apenas transformam as energias. Não sendo criadores de forças e não tendo acesso às fontes de energias puras, eles necessitam de uma fonte: essa fonte é o ectoplasma humano, seja de Espíritos encarnados ou desencarnados.
Essa é a razão básica dos engodos que eles estabelecem, como base do relacionamento com os encarnados. Sempre que o homem abandona a iluminação Crística, a luz do Amor, da Tolerância e da Humildade, ele fica sujeito às influências desses tipos de Espíritos. Esse é o envolvimento daqueles que praticam as magias com intenções somente humanas e se colocam como juízes do bem e do mal. Resumindo: o relacionamento com os Exús somente se faz, em termos de troca de serviços, quando as intenções são da alma e não do Espírito: quando a orientação não é a do Cristo Jesus.
Salve Deus!

  • Bandidos do Espaço – São Espíritos desencarnados que se tornaram delinqüentes. Embora eles andem em bandos, não formam “Falanges”, isto é, não seguem uma norma, uma bandeira ou finalidade específica como a maioria dos Espíritos. Eles se comprazem em fazer mal sem uma finalidade em si. Por essa razão eles são duplamente perigosos, pois nunca se sabe o que vai em suas mentes maldosas.
  • “Vendido ao Terreiro” – Como na organização física, o mundo invisível vive da força, da energia individual. Os Terreiros são organizações de relacionamento entre o Plano Invisível e o Físico. Quanto mais Espíritos são escravizados pelos Exús, maior é sua força de trabalho.
  • Exús Caçadores – São Espíritos pertencentes a alguma Falange de Exús, que se especializam em seduzir e se apossar dos Espíritos desprotegidos, que se recusam a aceitar seus destinos cármicos; verdadeiros nômades do Mundo Invisível.
  • Cavernas – São as habitações etéricas dos Espíritos que operam em contato íntimo com a superfície física. Sendo Etéricas, elas não ocupam espaço físico mas permanecem sempre no mesmo “lugar”, e se tornam perceptíveis pelo ambiente que formam em torno de si.
  • Canal Vermelho – Posto de Socorro do Plano Etérico. Cidade Intermediária onde os Espíritos permanecem em aprendizado até o máximo de 7 anos.

INCORPORAÇÃO

A incorporação é o fenómeno pelo qual uma entidade utiliza um médium em toda sua totalidade, isto é, seu cérebro, sua coordenação motora, sua voz, seus gestos, para se comunicar. Tanto pode ser um Espírito de Luz como uma poderosa entidade das Trevas, um sofredor ou um obsessor. Nos trabalhos do Templo, as incorporações são controladas pela força de IFAN (*), o Cavaleiro Ligeiro.
A energia de incorporação se projeta no plexo solar ou Sol Interior (*) do médium Apará e se escoa pelos chackras umerais (*), onde se aplica o passe magnético para eliminação de resíduos após uma incorporação.
Existe muita discussão em torno da veracidade desse fenómeno, principalmente por parte de pessoas que se dizem doutoras em Bíblia e alegam não ser esta uma manifestação dos santos espíritos.
Como poderíamos interpretar, então, o que descreve Isaías (XX, 2): “Naquele tempo, falou o Senhor por intermédio de Isaías, filho de Amós” e, também, Ezequiel (II, 2): “E o espírito entrou em mim, depois que me falou e me pôs em pé, e ouvi o que ele dizia” senão como puros exemplos de incorporações?
Na nossa Doutrina, o médium de incorporação é o Apará (*), que pode ser consciente ou semiconsciente. É muito difícil, raro mesmo, aquele que é inconsciente.
A faculdade mediúnica é força própria, individual, e cada um a pratica à sua própria maneira, sendo responsável pelos seus atos mediúnicos e sabendo que seu corpo lhe pertence. Nenhum espírito - de Luz ou Inluz - usará o corpo de um médium sem a permissão deste. Mesmo em casos aparentemente sem o conhecimento do médium, uma permissão é dada pelo seu subconsciente, movido pelo amor incondicional, para acontecer a manifestação.
A percepção do médium, sua sensibilidade e seu magnético animal controlam sua incorporação e isso ocorre de forma tão refinada e discreta em alguns casos que é confundida com inconsciência.
A incorporação é acompanhada da vibração do espírito que incorpora, e por ela o Doutrinador sente como deve agir, e caso se trate de um irmão Inluz, como fazer a sua doutrina e o momento preciso de fazer sua elevação. Da mesma forma que Deus permite as comunicações de espíritos elevados, para nos orientarem e instruir, permite aquelas de  espíritos sem Luz, que procuram nos induzir aos erros e às mentiras, testando nosso amor e nossa confiança na Doutrina. Em muitas ocasiões, nos Tronos, um espírito Inluz incorpora e passa a agir e falar como se fosse um Mentor. O Doutrinador, atento e harmonizado, vai sentir a diferença, e só lhe cabe fazer a elevação daquele espírito.
Na 1a. Epístola de João (IV, 1) nos é dito: “Caríssimos, não creiais a todo espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas que se levantam no mundo!” Com isso, nos alerta para que, especialmente os Doutrinadores, devidamente mediunizados, possam  estar certos de com quem estão lidando. Por ação de irmãos das Trevas podem ocorrer mistificações, o que geralmente é alheio à vontade ou controle do médium de incorporação. Por isso o Doutrinador deve estar mediunizado e alerta para lidar com espíritos dessa natureza, com caridade e compreendendo que aquele irmão deve ser tratado com muita sinceridade e muito amor, aplicando-lhe uma doutrina equilibrada e emanando paz e compreensão, até sentir o momento preciso para fazer a elevação.
Existem muitos casos de incorporações descontroladas, pois é um fenómeno milenar e poucos os que se preocupam em aprimorar suas faculdades mediúnicas, disciplinando a manifestação dos espíritos.
A maioria de brigas e violências são frutos de incorporações descontroladas, ação de espíritos das Trevas que se manifestam em condições propícias em bares, presídios, festividades e movimentos que envolvem muitas pessoas, descontrolando seus participantes e os envolvendo em sangrentos conflitos, de onde aqueles espíritos sugam o fluido magnético animal que os alimenta e dá força.
O Apará - médium com seu plexo iniciático -, por seu amor, por sua Doutrina, por sua consciência, age de acordo com sua força mediúnica, mas temos que considerar que também é influenciado pelas vibrações do ambiente em que está, com sua percepção captando desequilíbrios da mente do Doutrinador e de outras pessoas presentes, e tudo isso é que lhe dará as condições de sua incorporação. Sabemos que essas condições  variam de momento a momento, e não podem ser aferidas a não ser quando se efetiva a incorporação. O Apará sabe, sente, as nuanças da incorporação. Cabe ao Doutrinador aprender, também, diferenciar entre as comunicações puras, a Voz Direta, ou mesmo os sinais do estado do espírito incorporado, daquelas que expressam apenas o espírito do próprio Apará.
Tia Neiva nos ensinou que o Doutrinador é o único responsável pela interferência numa comunicação de um Apará, pois tem que estar sempre alerta para evitar as mensagens truncadas que possam ser atribuídas a um Preto Velho, gerando sofrimentos e angústias.
Na I Epístola aos Tessalonicenses (V, 20 e 22), Paulo adverte: “Não desprezeis as profecias. Examinai tudo: abraçai o que é bom. Guardai-vos de toda aparência de mal.”  Em nossa Doutrina aprendemos a não confiar nas comunicações (*) até termos a certeza da verdadeira natureza daquele espírito incorporado, e os perigos das previsões (*).
No Trono Milenar podemos exercitar nosso amor, nossa doutrina e nossa sensibilidade aprende a diferença entre as vibrações de um espírito de Luz e as de nossos irmãos das Trevas. Isso é válido tanto para o Apará como para o Doutrinador, para irem sabendo a diferença das incorporações.
Um grande exemplo dessa variação vibratória das incorporações é a de Pai Seta Branca. O Apará, mesmo veterano e equilibrado, precisa passar por uma preparação, que denominamos cultura, para que seu plexo vá se preparando para tornar seu ectoplasma refinado, a fim de receber a poderosa energia, evitando, assim, choques e desequilíbrios decorrentes desta grandeza, tornado-o apto ao trabalho no Oráculo e na Bênção.
Os médiuns Aparás, de 16 aos 18 anos, não podem trabalhar em locais onde haja comunicação (Tronos, Alabá, Angical, etc.).
Para facilitar nosso estudo, fizemos, em separado, observações sobre interferências, obsessor, cobrador, Pretos Velhos, Povo das Águas, Caboclos, etc.

·     “Forçar a incorporação de um médium é virar uma página e limitar a sua lição. A faculdade mediúnica é força própria, individual. Cada um a acumula à sua maneira. O médium que não dá sua própria mensagem é um falso profeta!”  (Tia Neiva, s/d)

·     “Não é justo, filho, depois da incorporação, ficar em dúvida: Será que incorporei? Será que foi o Preto Velho ou o Caboclo? Não foi somente uma impressão minha? Isso é triste para os nossos Mentores, que se apressam para que saia tudo com a precisão do Espírito da Verdade.
Trata-se de um conjunto, de um ritmo de aparência de encantos, de energia.
Não podemos designar este sentimento de amor. É o coroamento das virtudes, é muito mais científico do que pensamos. 
Quando solicitada uma incorporação, uma enorme e complexa força se faz em nós.
Seriam bastantes os cruzamentos destas forças para a cura desobsessiva, quanto mais que sabemos da presença de Caboclos e Pretos Velhos.”  (Tia Neiva, 8.4.79)